O presente trabalho constitui um breve ensaio sobre um elemento central do xamanismo kaiowa, as cruzes de madeira denominadas chiru. O objetivo é explorar um tópico específico de reflexão frequentemente sublinhado pelos rezadores kaiowa a respeito, o poder do chiru enquanto uma ferramenta/pessoa que age no cosmos. Ao conectar teorias locais sobre a questão (reconstituídas predominantemente através de um balanço etnográfico da literatura guarani) com alguns movimentos conceituais da teoria antropológica, pretendo demonstrar o quanto uma compreensão aprofundada desse tópico exige que revisemos algumas das antinomias fundantes do pensamento dominante sobre a “política”, sobretudo aquele calcado na chave analítica da representação simbólica.
O presente artigo visa discutir um aspecto central dos escritos do antropólogo Egon Schaden sobre as populações guarani: a relação com o mundo não indígena. Num primeiro momento, pretendo reconstituir brevemente a argumentação geral de Schaden a respeito o tema, que diagnostica “um dilema insolúvel”, para a qual a “única alternativa possível” seria “a resignação” dos Guarani (Schaden, 1969: 117). Num segundo momento, proponho confrontar este diagnóstico, mostrando que, longe da resignação, as populações guarani conseguiram construir alternativas importantes no bojo da relação com os brancos que não estavam previstas em análises do tipo. Para embasar teórica e descritivamente este ponto, pretendo remeter às reflexões do intelectual kaiowa Eliel Benites, contidas em sua dissertação de mestrado (Benites, 2014), que indicam outra maneira indígena de lidar com os brancos, não ressaltada por Schaden em razão da análise deste último estar fundamentada na noção de aculturação.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.