Ponto de VistaBastante conhecida no campo da saúde e da saúde das mulheres, na América Latina e no Brasil, Clair Castilhos expressa bem o feminismo surgido no Brasil no final da ditadura empresarial militar de 1964. A entrevista que segue foi realizada em julho de 2017, em Florianópolis, na casa de Clair, no Córrego Grande. As baixas temperaturas daquela tarde foram mitigadas pelo entusiasmo característico de nossa entrevistada, primeira vereadora mulher -e feminista -que a cidade de Florianópolis conheceu.Da longa conversa que estabelecemos, foram retirados, aqui, alguns trechos focados mais especificamente nos processos partidários locais, cuja compreensão seria dificultada para a maioria das leitoras. Incorporamos, todavia, como forma de registro e de memória, os documentos históricos que tratam da comemoração do 8 de Março, realizada na Câmara Municipal de Florianópolis, em 1982. Neste evento, Clair apresentou, de forma contundente, à Câmara de Vereadores, a "questão das mulheres", em conjunto com grupos de reflexão feministas que se organizavam na cidade, nesse momento, junto com outros movimentos sociais que se expressavam localmente, assim como em todo o país, nos primeiros anos da chamada transição democrática.Destacamos na entrevista desta gaúcha radicada em Santa Catarina desde os anos de 1980 suas memórias pontuadas por um cosmopolitismo típico das regiões fronteiriças, como a do Rio Grande do Sul com o Uruguai, onde nasceu e a partir do qual vão se descortinando as peculiaridades da vida política entre Sant'Ana do Livramento e Rivera, cidades onde passou sua infância e adolescência. De lá partiu, nos idos dos tempos em que o patriotismo era um "valor", forma como caracterizou sua formação escolar no final do período getulista.De fala contundente e firme, sem deixar de ser suave, Clair fala de sua trajetória lembrando os contadores de causos, comuns nesta região, com elementos cômicos e ironias, compassadas pela franqueza e simplicidade. É assim que ela compara o movimento estudantil dos anos 70 com os atuais, o feminismo que se forjou naquele momento com os dias de hoje, e, ainda, as mudanças no sindicalismo e movimentos sociais. Provocando novas perguntas a quem interroga, recorre frequentemente a uma espécie de método comparativo, entre o momento atual e aquele que marcou os anos 60 e 70, que viveu em sua própria pele. Articula aspectos da "grande política com aspectos prosaicos do dia a dia, as amizades, as festas, as formas de organização e de resistência". Conta também como, rapidamente, naquele contexto, a indústria farmacêutica impôs-se no país, de forma a impedir o desenvolvimento de tecnologias "nacionais", algo absolutamente caro a ela, enquanto jovem farmacêutica e identificada com o marxismo, uma das suas referências mais caras e sempre evocado em suas falas públicas.
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