Este artigo objetiva estabelecer relações entre a psicologia, como campo de produção de saberes e práticas, e questões centrais suscitadas pelas chamadas teorias transviadas (queer) e aleijadas (crip). Essas teorias surgem como contraponto às epistemologias que concebem os sujeitos de forma universalizante e normalizadora, e levam em conta como enquadramentos tais como os de gênero, sexualidade, raça e deficiência se inscrevem nos corpos e produzem subjetividades localizadas social, histórica e politicamente. Entendemos que suas contribuições se dão no sentido de trazer à tona os mecanismos de classificação, hierarquização e exclusão produzidos e perpetuados pelos ideais da corponormatividade e da cisheteronorma, que conferem inteligibilidade a determinados corpos, enquanto relegam outros à abjeção. Por fim, pontuamos a necessidade de a psicologia, ao ser interpelada por esses saberes contra-hegemônicos, haver-se com a própria implicação no processo de adequação e normalização dos modos de existência dissidentes, bem como nas relações de poder que sustenta por meio de seus discursos e práticas.
Este capítulo objetiva criar um diálogo entre conceitos da teoria queer e crip que versem sobre a necessidade de os corpos dissidentes encerrarem elos identitários, cuja função retorna a um marco estratégico de relações de poder. Para tanto, problematizamos acerca da insubordinação, que emerge da possibilidade de resistir à estrutura social capitalista neoliberal produtora de hierarquizações e assujeitamentos às vivências desviantes. Consideramos a insubordinação como uma linha de fuga que se ergue dentro de uma lógica na qual pessoas inicialmente circunscritas em categorias identitárias fixas podem se transformar em sujeitos políticos e, em coalizão, apostar na criação de comunidades múltiplas e diversas, resistindo coletivamente às diversas formas de homogeneização cultural. Assim, discutiremos sobre o processo no qual corpos que não são passíveis de serem adestrados e que reivindicam não se encaixar em qualquer lugar se tornam uma ameaça. O risco é de nos encontrarmos dentro de um processo de nomadismo que reconhece e enaltece a importância da diferença como primordial para qualificar boas relações, acolhendo estropiadas e invertidas - nenhuma interessante aos moldes capitalistas de produção, seja material ou afetiva. Por fim, este capítulo visa levantar discussões de campos teóricos da Psicologia Social que sugerem, como linhas de fuga potencializadoras, ações coletivas e micropolíticas como forma de driblar estruturas encarcerantes e violentas.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.