RESUMO -Racional -Estudos epidemiológicos sobre doenças inflamatórias intestinais no Brasil são limitados devido a dificuldades diagnósticase reduzidas amostras populacionais estudadas. A maioria dos estudos de sua prevalência disponível é composta por amostras de pacientes sob acompanhamento em ambulatório, entretanto a análise do perfil de pacientes com doenças inflamatórias intestinais hospitalizados pode auxiliar na detecção de marcadores preditivos de sua gravidade, o que permitirá intervenções médicas precoces visando a redução da taxa de hospitalização e os gastos do sistema de saúde. Objetivos -Descrever o perfil social, clínico, laboratorial e antropométrico dos pacientes adultos com doenças inflamatórias intestinais internados em hospital universitário terciário. Métodos -Estudo prospectivo com 43 pacientes com doenças inflamatórias intestinais internados nas enfermarias clínicas e cirúrgicas e no setor de emergência do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ. Foram caracterizados dados demográficos, presença de co-morbidades, localização e comportamento clínico, história cirúrgica, manifestações extra-intestinais utilizando-se definições padronizadas. Os resultados laboratoriais foram verificados nos prontuários e as medidas antropométricas foram realizadas durante a entrevista. Resultados -A maioria dos pacientes apresentou doença de Crohn (72,1%), com localização íleo-colônica (60%) e com comportamento penetrante (77,4%), enquanto no grupo retocolite ulcerativa idiopática predominou a pancolite (50%). No grupo total de retocolite ulcerativa idiopática, a artralgia foi a manifestação extra-intestinal mais freqüente (44,2%) e 97,7% já havia apresentado algum tipo de complicação relacionada à doença de base. Apesar do uso de terapêutica específica para doenças inflamatórias intestinais prévio à hospitalização em 79,1% dos enfermos, as causas mais freqüentes de internação estavam relacionadas à atividade de doença. A presença de co-morbidades só ocorreu em 30,2%. Conclusão -Os pacientes com doenças inflamatórias intestinais internados nas enfermarias do Hospital apresentam doença grave, em atividade, com complicações e manifestações extra-intestinais freqüentes, apesar do uso prolongado de corticóide. A doença de Crohn, por apresentar evolução mais agressiva, representou a maior parcela dos pacientes internados. A hipoalbuminemia, a anemia e as alterações antropométricas são comuns nos pacientes hospitalizados, podendo estar relacionadas a sua maior gravidade evolutiva. DESCRITORES -Doença de Crohn. Proctocolite. Hospitalização.
INTRODUÇÃO E LITERATURAA retocolite ulcerativa idiopática (RCUI) e a doença de Crohn (DC), também chamadas de doenças inflamatórias intestinais (DII), compõem um grupo heterogêneo de doenças cuja manifestação final comum é a inflamação, em cuja patogênese estão envolvidos diferentes fatores genéticos, imunológicos e ambientais (10) . As manifestações clínicas são decorrentes tanto do acometimento do trato gastrointestinal (TGI)...