Dewey identifica uma estrutura comum de investigação compartilhada pelo senso comum e pela ciência, e nosso objetivo, neste artigo, é analisar esta estrutura, expondo no detalhe suas etapas constituintes. Nosso percurso pode ser assim resumido: é fato que tanto o homem da vida comum como o cientista defrontam-se com situações concretas de dúvida e obscuridade, vale dizer, com problemas concretos. Nestas situações, ambos vislumbram primeiramente uma vaga sugestão de solução, baseada nos “fatos do caso” existentes, a qual deve ser intelectualizada, ou seja, transformada numa hipótese contendo uma previsão dos resultados. Esta ideia é desenvolvida em seus significados pelo raciocínio, que identifica as consequências da ideia, ao pô-la em relação com sistemas de outras ideias formuladas previamente. A solução hipotética do problema dirige e articula a ação subsequente ou o experimento. E será precisamente o experimento a dizer se a solução proposta deve ser aceita ou rejeitada ou ainda corrigida, a fim de solucionar o problema em mãos. Em nosso itinerário, confrontaremos ainda a concepção de Dewey com a psicologia subjetivista fundamentada no pensamento de George Berkeley (1685-1753). Finalmente, traremos uma crítica de Kaufmann (1959) ao modo como Dewey concebe a relação entre a metodologia e a lógica da pesquisa humana.
Nosso objetivo, no presente artigo, é propor uma articulação entre a teoria da individuação de Gilbert Simondon e a teoria da investigação de John Dewey. Em relação à primeira, serão enfatizados os aspectos “biológico” e “psíquico” de individuação; quanto à segunda, ressaltaremos seus principais elementos naturalistas e epistemológicos, assim como os conceitos mais gerais de “experiência” e de “natureza” de Dewey. Defenderemos que o processo de individuação tem estreita relação com a capacidade, possuída por todo indivíduo vivo, de solucionar problemas ou situações de conflito resultantes de sua constante interação com o ambiente. Proporemos, mais precisamente, uma conexão teórica entre o princípio ou conceito de individuação e a ideia de que existe no organismo vivente uma aptidão investigativa que não apenas restaura seu equilíbrio “metaestável”, como também, e ao mesmo tempo, lhe proporciona sempre uma nova individualidade, tanto biológica como psíquica. Esperamos obter, como resultado deste processo de síntese envolvendo as ideias de Simondon e de Dewey, uma compreensão ampliada das respectivas teorias da individuação e da investigação.
Resumo: No presente artigo, será feita uma análise geral do modo como o problema da formação do indivíduo é tratado, na teoria da individuação de Gilbert Simondon. O filósofo constata que tanto o atomismo quanto o esquema hilemórfico postulam cada qual um princípio específico que sustenta o processo de individuação: tem-se, pois, um monismo substancialista, no primeiro caso, enquanto, no segundo, um esquema dualista constituinte (matéria/forma). São justamente tais concepções que fazem com que essas escolas se tornem alvo das críticas mais incisivas de Simondon. Para ele, se, ao contrário, a hecceidade do indivíduo não estiver mais vinculada nem ao átomo, nem ao par hilemórfico, então não se terá mais a necessidade de invocar um princípio absoluto de individuação. Abrir-se-á, em vez disso, um caminho para se considerar como primordial, na investigação filosófica, a descrição da operação a partir da qual o indivíduo vem a constituir-se. Assumindo, pois, tal ideia como ponto de partida, Simondon desenvolve e oferece, conforme se mostrará, uma concepção de individuação profundamente original e instigante, capaz de inspirar novas maneiras de se abordar o tema.
Um dos fatos que John Dewey pretende assegurar é o de que a ciência tem seu ponto de partida nos problemas do senso comum, assim como nos instrumentos de que este lança mão para solucioná-los. O filósofo defende, mais exatamente, uma relação de continuidade, e não de ruptura, entre as investigações do senso comum e as pesquisas científicas. Para ele, a ciência estabelece-se como uma nova etapa dos processos comuns de pesquisa, sem nunca se desligar radicalmente deles. Nosso escopo, neste artigo, é reconstruir os argumentos de Dewey em favor desta tese.
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