O artigo apresenta um panorama dos desafios enfrentados por etnógrafos que buscam entender atividades envolvendo a internet explorando tanto princípios metodológicos quanto estratégias práticas chegar a um acordo com a definição de sites de campo, as conexões entre online e offline e a natureza mutável da experiência corporificada. Os exemplos são extraídos de uma ampla gama de configurações, incluindo etnografias de instituições científicas, televisão, mídia social e redes locais de presentes.
Neste artigo discuto o tema dos vídeos pornôs encontrados na internet, para pensar sobre os possíveis impactos e modificações proporcionados por essa tecnologia nos modos de representação pornográfica. A escolha do on-line se deu a partir da constatação do enorme crescimento e segmentação do mercado pornô nesse espaço, bem como das constantes tentativas nacionais e transnacionais de controle do conteúdo veiculado na rede, cujos principais pontos de discussão são a pornografia, a pedofilia e a pirataria. Assim, pretendo neste paper, a partir de uma perspectiva antropológica, abordar as maneiras como o online atua no mercado erótico, especialmente no Brasil, aumentando a segmentação do gênero pornográfico e permitindo o crescimento da chamada pornografia alternativa (altporn). Para tal, tomarei como base dados de minha pesquisa empírica enfocando o site brasileiro pioneiro na produção e comercialização de pornografia alternativa. Meu intento é perceber de que modo se organiza a produção desse ramo da pornografia - com estreita ligação com os avanços tecnológicos - e quais convenções de gênero estão operando nesse segmento a partir da observação dos corpos, desejos e práticas sexuais encontrados nos vídeos e imagens.
A entrevista que se segue foi realizada no dia 11 de março de 2020, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. No dia anterior, o presidente Donald Trump havia reconhecido o status de pandemia de COVID-19 e a quantidade crescente de casos nos Estados Unidos. Enquanto isso, eu estava nos últimos dias de um intercâmbio intelectual de 10 meses (entre maio de 2019 e março de 2020), financiado pela Fapesp, no qual fui supervisionada pelo professor Michael Taussig 1 . A ideia para esta entrevista surgiu de uma conjunção de fatores, mas especialmente do canal de diálogo aberto com o professor Taussig nos meses anteriores.A iniciativa de ir para a Columbia University (e para o Institute of Latin American Studies -ILAS) surgiu pelo encantamento com a obra de Taussig. Suas proposições sobre violência e terror me acompanham já há alguns anos, com destaque para o que ele chamou, em Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem, de "cultura do terror" e "espaço da morte". Ao me dedicar ao entendimento das formas públicas e privadas de violência em favelas do Rio de Janeiro, estes dois conceitos se tornaram fundamentais para as análises empreendidas.A obra de Taussig me fascinava também por outros motivos. Destaco, sobretudo, a inventividade e o caráter transgressor de suas propostas que fornecem insights teóricos e metodológicos. Sobretudo, Taussig nos provoca a experimentar etnograficamente, ao mesmo tempo em que mostra a importância de discussões teóricas densas. Sempre li suas obras como repletas do que chamei na entrevista de "amor e deferência pela curiosidade antropológica".A seu convite, acompanhei, entre setembro e dezembro de 2019, o curso "Taboo and Transgression", que ofereceu no departamento de Antropologia da Columbia University. A experiência de vê-lo lecionar tornou ainda mais instigante o esforço de embarcar em suas propostas e foi algo que iluminou a feitura desta entrevista,
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