Introdução: A gravidez gemelar molar, na qual coexistem feto normal e mola hidatiforme (MH) completa, é um evento raro, variando de 1:22.000 a 1:100.000 gestações. O quadro clínico é semelhante ao da doença trofoblástica gestacional (DTG), porém os níveis do hormônio gonadotrofina coriônica (hCG) são mais elevados e há maior propensão para a ocorrência de pré-eclâmpsia (PE) e neoplasia trofoblástica gestacional (NTG). É importante realizar o diagnóstico diferencial de MH parcial, em que o feto apresenta triploidia e não é compatível com a vida, mas o prognóstico materno é bom. Já na gestação gemelar molar há chance de sobrevivência fetal, entretanto o prognóstico materno é reservado, com incidência de NTG atingindo 55%. Relato de caso: Paciente de 36 anos, secundigesta, obesa, notou atraso menstrual e realizou ultrassonografia (USG) em 12 de agosto de 2020, que revelou gestação de seis semanas (s) e seis dias (d). Nesse período, apresentou sangramento transvaginal intermitente e náuseas. Às 12 s de gestação, apresentava feto vivo e imagem sugestiva de MH contígua ao saco gestacional. Foi encaminhada ao centro de referência em DTG, na Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi sugerida gestação gemelar molar em USG, com 13 s e 3 d, e foi solicitado ßhCG quantitativo e rotina de PE, de resultado normal. Retornou com elevação pressórica após três dias e ßhCG 361.372, e foram iniciados AAS e Metildopa. Após uma semana, com ßhCG 410.348 e ainda com descontrole pressórico, queixou-se de sangramento de moderada quantidade. Manteve elevação do ßhCG (570.498) e rotina de PE normal, com persistência do sangramento, porém em menor quantidade. Realizou-se amniocentese, resultando cariótipo inconclusivo. No mês seguinte, com ßhCG 613.452, fechou-se o diagnóstico de PE. Com 22 s e 6 d e ßhCG em declínio (522.928), a paciente relatou episódio de escotomas cintilantes, aumento do sangramento e metrossístoles irregulares. Foi internada na Perinatal Laranjeiras em 26 de dezembro em razão de trabalho de parto prematuro; progrediu com nascimento de recém-nascida via vaginal, pesando 900 g, que permaneceu na unidade de terapia intensiva neonatal. Realizou-se aspiração manual intrauterina guiada por USG, seguida de hemorragia por atonia, introdução de balão de Bakri intraútero e hemotransfusão. Fez tomografia (TC) de tórax, que exibiu múltiplos nódulos pulmonares, e TC de abdome e pelve, sem alterações. Na semana seguinte, uma segunda aspiração uterina foi necessária. Recebeu alta médica dia 6 de janeiro de 2021, com ßhCG 415, e manteve acompanhamento ambulatorial, observando-se declínio deste valor. Conclusão: A conduta pré-natal nos casos de MH completa em gestação gemelar deve ser individualizada, não sendo estabelecida na literatura. A interrupção da gravidez é determinada por complicações clínicas decorrentes da agressividade do crescimento do trofoblasto. A evolução clínica, laboratorial pelo ßhCG, a análise citogenética do feto e a decisão da paciente são relevantes ao se considerar a interrupção ou não da gestação.
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