Este artigo propõe uma reflexão sobre a questão da memória e sua narratividade a partir da [re]criação de uma voz calcada na experiência da clandestinidade sob o olhar infantil. Trata-se de analisar o retorno à vivência do trauma, do exílio e do silenciamento que, mais de trinta anos após o Golpe Cívico-Militar argentino, encontra via de expressão na língua francesa, idioma de acolhida de Laura Alcoba. A autora, exilada na França desde o final da década de setenta, filha de militantes do grupo Montoneros, evoca, nos livros aqui analisados, tanto os meses precedentes a 1976, quanto sua descoberta a um só tempo apaixonada e angustiada do francês, o exílio, as perdas e a forte ligação com o pai, sua travessia nas línguas e narrativas.
Esta tese propõe uma análise comparativa entre as obras de duas escritoras argentinas, Sylvia Molloy e Laura Alcoba, que vivem há décadas fora do país e problematizam em sua escrita as relações entre subjetividade, território e língua[s], a partir de diferentes faces do deslocamento, vivenciado e tratado por cada autora sob um viés particular, mas guardando estreitas relações no que diz respeito à importância da memória – e do esquecimento −, da leitura e da escrita como modos de se inscrever em determinadas redes de sentido e filiações. Para tanto, centramos nosso percurso analítico nos seguintes livros: El común olvido (2002), de Sylvia Molloy, que constitui o fio a partir do qual tecemos relações com outros textos da escritora, notadamente, Vivir entre lenguas (2015), Desarticulaciones (2010), Em breve cárcere (1995[1981]) e Citas de lectura (2017); no caso de Laura Alcoba, o corpus contempla La casa de los conejos (2008), El azul de las abejas (2014) e La danza de la araña (2017), todos eles publicados originalmente em francês nos anos de 2007, 2013 e 2017, respectivamente. O mapeamento de percursos e procedimentos tem por objetivo evidenciar como a prática escritural, permeada pela experiência, reinventa os laços com o território nacional e com o campo literário. É o texto, tecido com retalhos, fragmentos, ausências e silêncios, que forja um lugar a partir do qual desenham outras paisagens e encontram caminhos singulares para dizer a dor, a ferida, o medo, as perdas, a desnudez do humano. Desse lugar, às margens da língua, sem, porém, abandoná-la, se abre uma possibilidade de escuta que é também hospitalidade ao que nos têm a dizer aqueles que foram impedidos de falar
Neste artigo, analisamos as relações entre atividade escritural e conformação da subjetividade feminina a partir da leitura do romance Em breve cárcere, da escritora argentina Sylvia Molloy. A narrativa, predominantemente em terceira pessoa, centra-se na reconstrução das experiências vividas pela protagonista, das descobertas e perdas apreensíveis fugazmente pelo gesto doloroso, mas necessário, da escrita. Para tanto, tentaremos cartografar os caminhos dessa memória especular atravessada pelo onírico, que revela temores e desejos de uma subjetividade fabricada na solidão de um cômodo-metáfora. Mobilizaremos alguns conceitos de Pierre Bourdieu, presentes em A dominação masculina (1998), bem como refletiremos sobre o lugar da “mulher-que-escreve” a partir das considerações que Virginia Woolf tece no ensaio intitulado “Um teto todo seu” (1929).
Trata-se de um poema sobre travessia, sobre encontros e desencontros que acontecem ao longo da vida.
Trata-se de um conto sobre a dor da perda e a tentativa de se reencontrar.
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