RESUMOOBJETIVO. Embora de grande importância para os que lidam com o perioperatório do transplante de fígado, seu comportamento hemodinâmico ainda não encontra uma descrição consensual na literatura. O objetivo deste estudo é descrever o comportamento hemodinâmico durante as primeiras 48 horas do transplante de fígado. MÉTODOS. Foram estudados prospectiva e consecutivamente 61 pacientes, sendo 50 homens, com idade média de 49 anos (18-70 anos). As medidas hemodinâmicas foram realizadas no início da cirurgia, 30 minutos após a revascularização do enxerto e, a partir de então, a cada 6 horas até 48 horas após a revascularização. O peso foi obtido no momento da internação e no primeiro e segundo dias de pós-operatório às 6h. RESULTADOS. A pressão arterial média começa a apresentar aumento nas primeiras horas de pós-operatório com valores significativamente mais elevados 24 horas após a revascularização. O índice cardíaco apresenta um aumento significativo logo após a revascularização, voltando progressivamente aos valores pré-operatórios. Da mesma forma, a resistência vascular sistêmica apresenta uma queda significativa imediatamente após a revascularização, voltando a atingir valores próximos aos pré-transplante após 24 horas da revascularização. A pressão de capilar pulmonar começa a apresentar valores significativamente mais elevados já com 6 horas após a revascularização e o peso aumenta significativamente já no primeiro pós-operatório. CONCLUSÃO. Nas primeiras horas após o transplante de fígado, há uma intensa variação hemodinâmica, com aumento progressivo das pressões arterial sistêmica e de capilar pulmonar, além de variações significativas, porém transitórias, do índice cardíaco e da resistência vascular sistêmica, exigindo uma vigilância contínua para minimizar suas conseqüências.
INTRODUÇÃOO transplante de fígado se consolidou, nas últimas décadas, como o único tratamento eficaz para a doença hepática terminal, seja ela crônica, subaguda ou aguda. Isto se deveu não só pelo fato de as técnicas relativas a esse transplante e a imunossupressão terem se aprimorado mas, também, porque, nesse meio tempo, não se desenvolveu nenhuma tecnologia ou terapia que pudesse substituir as múlti-plas funções exercidas pelo fígado. É a multiplicidade dessas funções que torna as doenças que acometem o fígado tão complexas, com repercussões hemodinâmicas importantes [1][2][3][4][5] . São também essas funções que tornam o transplante e o perioperatório desses pacientes extremamente conturbado. Basta lembrar o tão temido, pelos anestesistas, período pós-reperfusão do enxerto. Ou, ainda, a instabilidade hemodinâmica do pós-operatório, desta vez temida pelos intensivistas, e a congestão pulmonar descrita em até 40% dos casos [6][7][8] . Outra alteração freqüentemente observada é a hipertensão arterial, muitas vezes de difícil controle 9,10 . Existem poucos trabalhos na literatura que descrevem adequadamente o comportamento hemodinâmico do perioperatório do transplante de fígado; alguns, até mesmo, com resultados conflitantes ent...