O presente artigo expõe, inicialmente, um panorama da sociedade contemporânea, a qual se apresenta como programada para o consumo e é marcada pelas exigências de um mercado capitalista e neoliberal, visando demonstrar de que forma tais características influenciam e determinam a construção da subjetividade dos indivíduos. Nesse contexto, o texto analisa as consequências das referidas configurações sociais no campo educacional, em especial no ensino de filosofia. Ademais, busca-se ressaltar o modo como são desenvolvidas as relações de poder, pautadas essencialmente pelo caráter opressivo. Como proposta para o desenvolvimento de práticas de ensino nesse cenário, de modo a não reproduzir o modelo vigente, cujo objetivo é a construção de um sujeito eficiente em termos de produção, é apontado o ensino de filosofia a partir do eixo problemático. Esse modelo, na concepção do filósofo Sílvio Gallo, é uma das formas mais adequadas de propiciar aos estudantes a experiência do pensar crítico, fugindo de um ensino mecanicista, reprodutor de um sistema de controle e normatização. Por fim, é apresentada a ética do cuidado de si ou a estética da existência, a partir dos estudos de Michel Foucault. À luz dessa concepção, busca-se analisar as suas possíveis contribuições para o ensino de filosofia, entendido como uma forma de resistência às práticas criadas pelos estados modernos com o objetivo de domesticar, subjugar e controlar os indivíduos. Entendemos que o ensino de filosofia torna-se uma práxis libertadora, que desperta nos sujeitos o pensar crítico, criativo e reflexivo, de modo a se tornar uma forma de resistência contra as lógicas de controle e alienação das subjetividades.
O artigo busca analisar algumas questões relacionadas à concepção de boa vontade e dever moral na filosofia prática de Kant. Inicialmente, apresenta-se a investigação kantiana acerca do princípio supremo da moralidade, como exposto na primeira parte da obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785). Em seguida, a partir do estabelecimento da razão prática pura como o fundamento de todas as leis morais, evidencia-se a distinção kantiana entre moralidade e felicidade. Com isso, pretende-se mostrar que a origem do valor moral está na máxima subjetiva da vontade, de modo que a boa vontade é aquela determinada a priori pela razão prática pura. Por fim, busca-se relacionar a obrigação do dever moral com o sentimento puro de respeito à lei da razão prática, pelo que esse pode se tornar o motivo (Bewegungsgrund) da ação moral, sem comprometer o seu valor.
O artigo aborda a problemática que envolve a terceira seção da obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, mais precisamente a questão referente à validade sintética a priori do imperativo categórico na determinação da vontade humana. Muito embora a lei moral seja universalmente reconhecida por todos os seres racionais, Kant precisa demonstrar a sua efetividade no que diz respeito à vontade humana, a qual é empiricamente afetada. Deste modo, a estratégia argumentativa kantiana gira em torno de uma tentativa de deduzir a autonomia moral da noção transcendental de liberdade, o que se mostra impossível, pois, nesse contexto, ainda não há como comprovar a validade objetiva de tal conceito. Apesar do esforço empreendido por Kant, todos os argumentos aqui erigidos esbarram na impossibilidade de se conhecer o âmbito inteligível, de modo que tal questão só vai ser levada a cabo na Crítica da Razão Prática.
À luz das reformulações conceituais acerca dos pressupostos filosóficos aceitos por Rawls no desenvolvimento de sua teoria da justiça, o presente artigo objetiva questionar a ideia de autossustentabilidade do âmbito político, como exposto em Political Liberalism (1993), evidenciando alguns pressupostos morais não explicitados pelo autor. A partir de um acordo semântico proposto por Rainer Forst, o qual diferencia os âmbitos de aplicação do ético, do político e do moral, pretende-se demostrar que há uma fundamentação moral no liberalismo político, a qual, todavia, não deve ser entendida no sentido ético. Propõe-se que esse pressuposto moral encontra-se na razão prática kantiana, pois é daí que Rawls parte para estruturar e fundamentar a sua concepção de justiça. Com isso, os princípios do liberalismo político rawlsiano, para que possam ser efetivos quando aplicados à estrutura básica da sociedade, devem ser analisados mediante os elementos morais da razão prática kantiana.
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