Este trabalho objetiva analisar as consequências do contato linguístico que ocorreu em uma comunidade do interior do Espírito Santo, colonizada por imigrantes provenientes do Vêneto, Itália, que ali chegaram no final do século XIX. Especificamente, investigamos o uso da 2ª pessoa do português por parte de quatro bilíngues em vêneto e português, netos desses imigrantes, sendo dois homens e duas mulheres, com idade acima de 57 anos e com baixa escolarização. Os dados foram coletados por meio de entrevistas sociolinguísticas, sendo analisadas cinco variáveis linguísticas e uma extralinguística. Os resultados apontam o emprego de você(s), de cê(s) e de ocê(s) pelos informantes. Nossos resultados não se alinham aos obtidos em outras comunidades brasileiras, evidenciando que, em situações de contato linguístico, a língua materna exerce influência variável na segunda língua, a depender dos fatores linguísticos e sociais envolvidos.
Alfredo Chaves foi um dos municípios do Espírito Santo colonizados por imigrantes italianos, sobretudo da Região do Vêneto, que ali chegaram a partir de 1877, trazendo consigo a sua cultura e a sua língua. Entretanto, os crescentes contatos entre os imigrantes e seus descendentes com os falantes de português levaram a uma expressiva diminuição dos usos das variedades vênetas. Assim, este estudo busca analisar a atuação da escola no processo de substituição do vêneto pelo português em duas comunidades de Alfredo Chaves (ES): a Sede e a comunidade rural de Santa Maria de Ibitiruí. Nossos dados foram obtidos por meio entrevistas com descendentes de imigrantes italianos, além de (ex-)agentes escolares que residem nas duas localidades. As análises, feitas com base na teoria do Contato Linguístico, evidenciam que o sistema educacional atuou em favor da propagação das leis nacionalistas de Vargas e que o ensino do português ainda contribui para excluir a variação linguística nas salas de aula, culminando em situações de preconceito contra quem fala o português com influência da língua vêneta. Diante desses resultados, concluímos que se faz necessário um trabalho de apoio aos agentes escolares, por meio de formação continuada junto a eles, a fim de que a diversidade cultural e linguística seja respeitada e valorizada pela escola.
Resenha do livro:MOLLICA, Maria Cecilia; BATISTA, Hadinei Ribeiro; QUADRIO, Andreia Cardozo; FONSECA, Mariana Fernandes. Do analfabetismo à violência: contribuições da ciência da linguagem. São Paulo: Contexto, 2020.
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