Resultados do tratamento da ambliopia com levodopa combinada à oclusãoObjetivo: Verificar a melhora da acuidade visual com levodopa/benzerazida combinada à oclusão parcial e seguida por oclusão total, em pacientes com ambliopia considerada irreversível. Métodos: Realizou-se estudo experimental aberto, envolvendo 37 pacientes entre 7 e 40 anos de idade, com ambliopia por estrabismo ou anisometropia, durante 9 semanas. Todos os pacientes foram tratados com levodopa (0,70 mg/kg/dia) e benzerazida 25% associada à oclusão de 4 horas/dia do olho dominante por 5 semanas e, nas 4 semanas seguintes foi realizada somente a oclusão total (24 h) do olho dominante. A acuidade visual foi medida na tabela do ETDR (Early Treatment Diabetic Retinopathy) com escala logMAR (logaritmo do mínimo ângulo de resolução) antes de iniciar o tratamento e após 1, 3, 5 e 9 semanas de tratamento. As adesões ao tratamento de oclusão e a ingesta do me-dicamento foram verificadas por meio de questionário e pela contagem das cápsulas. Os efeitos adversos foram avaliados por exame clínico e questionário. Resultados: Após 9 semanas de tratamento, a acuidade visual média melhorou em logMAR de 0,58 ± 0,16 para 0,23 ± 0,16 (melhora de 4 linhas na tabela ETDR). Conclusão: Levodopa, na dose de 0,70 mg/kg/dia, é bem tolerada e associada à oclusão produz melhora significativa na acuidade visual de pacientes com ambliopia considerada irreversível.
INTRODUÇÃOA ambliopia é a causa mais freqüente de perda visual na criança, afetando 2 a 5% da população (1) . Estrabismo e anisometropia são as causas mais freqüentes de ambliopia. Embora se discuta a idade limite para se recuperar ambliopia, considera-se, sob o ponto de vista prático, irreversível a não tratada até os 8 anos de idade (2) . A função das catecolaminas na plasticidade sensorial da visão já foi demonstrada em vários estudos (3)(4)(5)(6) . A levodopa é precursora da dopamina, um dos principais neurotransmissores do sistema extrapiramidal. Seu emprego tradicional é na doença de Parkinson, uma situação clínica classicamente atribuída à depleção de dopamina no estriado (4) . Pelo fato da dopamina não atravessar a barreira hemato-encefálica, o tratamento que intenta aumentar sua concentração no sistema nervoso central utiliza a levodopa, que transportada através da barreira, transforma-se em dopamina e subseqüentemente em norepinefrina. Como a levodopa também pode ser convertida em dopamina a nível periféri-co, o que ocasiona efeitos indesejáveis, administra-se carbidopa ou benzerazida simultaneamente para inibir esta transformação.