A área laboral tem vindo, nos últimos anos, a ser fustigada por um vasto conjunto de transformações, no contexto da economia global em que vivemos e sob os efeitos de diversas forças e instituições de âmbito transnacional. Recorrendo a exemplos retirados de estudos empíricos recentes desenvolvidos pelo autor, o presente artigo analisa e discute os processos de mudança em curso, partindo dos problemas ligados ao mundo do trabalho e articulando-os com a questão mais geral das desigualdades e das classes sociais. O principal objectivo é diagnosticar e interpretar criticamente algumas dessas transformações na sociedade portuguesa, mostrando a sua relevância, significado e implicações para o sindicalismo. Assim, após uma reflexão crítica sobre as novas linhas de segmentação do mercado de trabalho e das desigualdades sociais, procura-se apontar um conjunto de questões dirigidas ao campo do sindicalismo, convidando à reflexão e análise crítica das experiências e problemas com que o mesmo se debate.
Nas últimas décadas, o sistema de ensino superior em Portugal tem passado por profundas mudanças, as quais se prendem em larga medida com a democratização do acesso à Universidade. Com a rápida expansão e a crescente força do mercado, o ensino superior revelou novas contradições e debate-se com novos desafios. Apoiando--nos num inquérito aplicado aos estudantes da Universidade de Coimbra procuramos analisar e questionar as mudanças em curso no plano das expectativas e representações estudantis e discutir as suas repercussões na redefinição da missão da Universidade.
The present text focuses on the concept of middle class and its sociopolitical implications. Inasmuch as this is a topic that has been fuelling successive arguments in the academic field for some two hundred years, the author’s approach seeks to “deconstruct” some of the commonplaces that have involved this category over the years — particularly the connotation with political apathy, individualism and uncritical adherence to the “bourgeois” status quo. He takes examples from the recent cycle of social rebellions generated by the economic crisis and austerity policies — especially the protests that took place in Southern Europe and Brazil — to explore the hypothesis that the potential radicalism and transforming force of these movements are due not to a sense of “vanguardism” or “proletarian” identity, but rather to a “middle class initiative” derived precisely from the values and lifestyles incorporated — but not consolidated — by these segments. To put it another way, the discontent of the middle class (both the sectors that are moving upwards and those that are in decline) is a result of expectations, ambitions and desires to climb the social ladder, which the current economic system and governing class “promised”, but were unable to fulfil, with the middle class now threatened with impoverishment instead. The possible resurgence of conflict, be it either progressive or nationalist and conservative in nature, will certainly entail a prominent role on the part of these categories, marked as they are by instability, job precarity and the social model they once dreamed of.
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