Com este trabalho tem-se a pretensão de situar e caracterizar o ensino de Português como Língua de Acolhimento (PLAc) na linha do tempo dos estudos sobre o Português Língua Estrangeira (PLE). A proposta é contextualizar o ensino do PLE no Brasil, com ênfase nas políticas linguísticas que envolveram ”“ e ainda envolvem ”“ esse tipo de aquisição de Português (ALMEIDA FILHO, 1999, 2005, 2012; CUNHA; SANTOS, 2002). Na sequência, com o amparo de teorizações de Grosso (2010), Amado (2011), Arantes et. al (2016), Cursino et. al (2016), Lopez (2018) e Diniz e Neves (2018), serão situadas e caracterizadas as concepções de PLAc, com ênfase nas suas especificidades, motivadas por questões geopolíticas e pelo multilinguismo global, especialmente. A conclusão indica que o PLAc representa uma perspectiva outra, inovadora e significativa no campo do PLE, uma vez que, além de assistir a demandas não atendidas pelo Estado (COSTA; SILVA, 2018), baseia sua metodologia numa cultura de ensino participada, que respeita os processos de (re)construção identitária dos sujeitos (ANUNCIAÇÃO, 2018) com foco na promoção da cidadania e na consciência e diálogo interculturais.
Este trabalho apresenta a concepção e as especificidades de PLAc (SÃO BERNARDO, 2016; AMADO, 2014, 2011; CALDEIRA, 2012; GROSSO, 2010) e propõe uma triangulação entre o ensino de PLAc, a abordagem comunicativa (LEE; VANPETTEN, 2003; SAVIGNON, 2001) e o letramento crítico como idealizado por Freire (1979, 1987, 2011, 2014, 2015) visto que as aulas de PLAc objetivam levar o aprendiz a se comunicar de forma eficiente e pragmaticamente adequada na nova língua, na busca pelo reconhecimento e pelo acesso a seus direitos sociais, deveres e serviços de acolhida no novo país, ou seja, a língua é de fato o meio primário de emancipação e reconstrução social. Além disso, as temáticas que atravessam o ensino de PLAc colocam questões pertinentes ao letramento crítico como foco de discussão e de reflexão em sala de aula, as quais podem ser intensificadas pela inclusão de práticas digitais planejadas com base nos materiais de PLAc, como o de Oliveira et al. (2015). Por entendermos que uma participação social ativa e democrática também é feita online, criamos um questionário e diagnosticamos o uso de tecnologias digitais de nossos alunos de PLAc, na cidade de São Paulo, e então elaboramos uma proposta para a inclusão do componente letramento digital (HOCKLEY; DUDENEY; PEGRUM, 2013) no desenvolvimento das competências comunicativas e críticas dos alunos, considerando seus conhecimentos de legado sobre as práticas digitais.
FERREIRA, Luciane C.; PERNA, Cristina; GUALDA, Ricardo; LEURQUIN, Eulália V. L. F. (org.). Língua de Acolhimento: experiências no Brasil e no mundo. Belo Horizonte: Mosaico Produção Editorial, 2019. 296 p.
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