A vida não é para ser útil. Isso é uma besteira.A vida é tão maravilhosa que a nossa mente tenta dar uma utilidade para ela.A vida é fruição. A vida é uma dança. Só que ela é uma dança cósmica e a gente quer reduzi-la a uma coreografia ridícula e utilitária, a uma biografia: alguém nasceu, fez isso, fez aquilo, fundou uma cidade, inventou o fordismo, fez a revolução, fez um foguete, foi para o espaço... Tudo isso, gente, é uma historinha tão ridícula! A vida é mais do que tudo isso. Nós temos de ter coragem de ser radicalmente vivos.E não negociar sobrevivência.(Ailton Krenak)Vivemos um tempo de muitos desafios e grandes exigências. A pandemia do novo coronavírus desencadeou, a partir do início do ano de 2020, uma série de tensionamentos que desestabilizaram diversos âmbitos da vida humana. Mas a vida, como indicam as palavras de Ailton Krenak na epígrafe deste artigo, "é muito mais que tudo isso", então, "não podemos negociar a sobrevivência". Como fruição e dança cósmica, nossa humanidade é sempre capaz de se reinventar diante das dificuldades e construir alternativas em busca de "ser mais".A pandemia é uma enorme questão que nos atravessa nesse momento da história, mas ela não é a única ameaça que a humanidade enfrenta. O mundo contemporâneo, desde a década de 1980, experimenta diversas transformações e reinvenções do capitalismo que igualmente colocam à prova a vida e a existência da humanidade em muitas dimensões (SANTOS, 2020).