O artigo a seguir apresenta uma discussão sobre a ideia de uma vida mult iespécie, através de dois passos. O primeiro deles se refere a um questionamento do dispositivo antropocêntrico que opera no pensamento antropológico, discutindo seu processo recorrente de delimitação da vida humana como uma vida qualificada, polít ica, em detrimento da vida animal como desqualificada, mecânica. O segundo passo indica elementos constitutivos de um pensamento ecológico que não se subordina ao tipo de reducionismo presente na oposição clássica entre cultura e natureza. A partir desses dois passos, o termo multiespécie é discutido em função do diagnóstico do esgotamento do aparato conceitual fundado no exclusivismo do humano e na ideia da natureza como um pano de fundo para as ações humanas.
SummaryPantaneiro 2 cattle have many facets. Firstly, they are the object or the product of the main economic activity of the region; secondly, they are a key element in the ecological dynamics of the flood plains of the Pantanal;and finally, they are the subject of unique cultural practices and experiences. The articulation of these three modes of existence is discussed in this article, based on an ethnography carried out on farms in the southern Pantanal region. The proposal is to reflect on the Pantanal concept of bagual and the way it relates to the dichotomies of tame and feral, traditional and modern.Keywords: ethnoecology; multispecies; Pantanal; animal husbandry; bagual. Notas sobre o bagual:pecuária, caça e conservação no Pantanal brasileiro ResumoO gado pantaneiro é múltiplo. Em primeiro lugar, ele é o objeto ou o produto da principal atividade econômica regional; em segundo, é um elemento chave na dinâmica ecológica das planícies inundáveis doPantanal; e é, por fim, tema de uma série de práticas e experiências culturais singulares. A articulação entre esses três modos de existência é discutida neste artigo a partir de uma etnografia realizada em fazendas situadas na região sul do Pantanal. A proposta é refletir sobre o conceito pantaneiro do bagual em suas articulações com as dicotomias entre o manso e o bravo e entre o tradicional e o moderno.
É bem conhecido o fato de que a antropologia, em suas vertentes clássicas, se caracteriza por estabelecer uma grande divisão entre natureza e cultura, a qual inclui a demarcação de diversas oposições complementares: corpo e alma, ambiente e civilização, fato e valor, animal e humano, entre outras. O ponto de partida para a discussão aqui proposta é refletir sobre esse grande divisor, investigando alguns dos limites e desdobramentos dos conceitos de “cultura” e de “natureza” no campo da antropologia contemporânea. O objetivo é mostrar como esse par conceitual tem sido sistematicamente colocado à prova tanto a partir do contato com a alteridade radical do pensamento de povos não ocidentais quanto nos chamados estudos da ciência e da tecnologia, que ao longo das últimas décadas se desdobraram em abordagens inovadoras da política, da economia, ou seja, das grandes instituições da modernidade ocidental. Em relação ao conceito de cultura, objeto por definição da própria disciplina antropológica, a referência aqui é principalmente a sua retomada crítica a partir dos anos 1970. No que se refere ao seu par, o conceito de natureza, evoco uma problemática mais recente, em que o que se coloca em questão é a ideia mesma da natureza como uma unidade exterior e transcendente, um domínio independente do humano. A questão se desdobra em duas: (1) uma reflexão sobre as relações entre humanos e animais, problematizando a atribuição prematura do campo da moral a uma dimensão estritamente humana, e (2) um questionamento do papel da natureza nas ciências, em diálogo com saberes indígenas ou tradicionais.Palavras-chave: Natureza. Cultura. Diversidade. Cosmologia. Animal.
O presente artigo investiga os desdobramentos das atividades de um projeto científico desenvolvido em uma fazenda de gado no Pantanal do Mato Grosso do Sul, voltado para a conservação da onça-pintada. A principal atividade econômica da região é a criação de gado e, na tradição local, a onça tem sido vista ora como uma ameaça, ora como uma peste a ser eliminada, ora como símbolo de coragem e status. No passado, era comum que as fazendas do Pantanal empregassem caçadores com cães treinados para perseguirem e eliminarem os animais que atacassem a criação. Nos dias de hoje, porém, a onça adquiriu novos papéis com o desenvolvimento do ambientalismo e a entrada em cena do turismo ecológico na região, quando os safáris fotográficos começaram a substituir as antigas caçadas. Nesse contexto, antigos caçadores são contratados por pesquisadores e entidades ambientalistas para a captura e a colocação de coleiras de rádio nos felinos, com a finalidade de estudá-los.
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