AberturaÉ possível que se Simmel visse o futebol da forma como é praticado hoje o tivesse tomado como um problema. Como tudo que anuncia no vivido a tragédia da cultura, o autor se encantaria com a performance e o drama do jogo, com a vida dos atletas, com os feitos heróicos e os grandes fracassos, com o efeito alegórico da multidão e o descontrole controlado das massas. Arte, técnica e capital compondo um quadro dinâmico dos nossos desejos e medos. Uma arquitetura (uma forma?) suis generis de nosso modo de estar no mundo. Uma poesia, mas também uma tragédia.O futebol atravessou mudanças significativas nos últimos anos. A dimensão dos fatos agora começa a ser sentida, quando grande parte dos clubes agoniza financeiramente, a qualidade técnica das equipes diminui e os jogadores estão vinculados a empresários para buscar uma melhor posição no mercado dos "pés de obra" (DAMO, 2005) e poder exercer melhor sua profissão. Mais do que uma mudança trabalhista, a nova ordenação do mercado que reconfigura as relações sociais no futebol e atualiza as idéias de Simmel sobre a filosofia do dinheiro e a tragédia da cultura assevera as bases de um "pensamento único", agitado pelo valor simbólico da liberdade, do consumo e do capital, a despeito das diatribes nada irônicas formuladas pela noção de "racionalidade instrumental" (HORKHEIMER, 2000).É preciso, entretanto, não tomar o sistema econômico, que é um suporte material, como o princípio, a causação dissolvida na "mão invisível do mercado", do modo pelo qual as relações de trabalho estão a provocar transtornos no futebol. A teoria simmeliana, especificamente a que trata da filosofia do dinheiro e da tragédia da cultura, distingui-se das teses marxianas ao valorizar os elementos prático-simbólicos e a bildung na interação dialética com a economia para o entendimento das relações sociais. É preciso, como sugere o autor antecipando algumas teorias sobre o social de hoje, perceber que o mundo material está ancorado na idealidade da realidade, na psicologia profunda do indivíduo, ao mesmo tempo em que, refletindo esta dialeticidade o mundo material é pensado -assim também propõe, mais recentemente, por exemplo, Marshal Sahlins (2003).O objetivo, deste texto, é discutir, no espaço social organizado em torno do futebol, sobre a impossibilidade de se ressubjetivar a cultura objetivada quando esta toma como medida das coisas, pessoas e relações sociais o valor abstrato do dinheiro. Pretendo, em específico, refletir como a flexibilização das relações de trabalho, que se realiza ao aprofundarmos o individualismo e a ideologia liberal, tem implicações para o sistema futebolístico, na medida em que a comunidade de afetos que envolvia a relação jogador clube é substituída pela ordem monetária das equivalências. Ainda, refletir sobre os efeitos práticos para a organização do futebol, atravessada que é pela circulação intermitente de jogadores.
Neste artigo operamos uma análise fílmica do longa-metragem brasileiro “Ventos de Agosto” (2014), do diretor Gabriel Mascaro, em que é possível observarmos a dimensão da morte como questão dialógica do filme, permitindo-nos tratar, a partir da presença do corpo morto, os usos sociais do corpo. Assim, embora sua potência seja a dimensão estética, a narrativa fílmica nos permite refletir, antropologicamente, quanto ao corpo institucionalizado pelos dispositivos do Direito e da Medicina, explicitando o governo dos corpos (vivos e mortos) para seus usos políticos.
Este texto, fruto das observações oriundas de "micro" etnografias realizadas durante estágio de doutorado em Madri, reflete sobre a fotografia, tomada por agentes sociais distintos, de desportistas e espaços desportivos na era digital. Considerando a profusão de imagens e a facilidade de difusão via internet, questiona implicações ético-morais da captura destas e os sentidos da produção, protagonismo e performances. Sugiro haver 'gosto de classe' e 'habitus' a orientar estas práticas. A apropriação da imagem alheia (de ídolos e anônimos) e a exacerbação do individualismo caracterizam este 'ethos', cujo perigo reside no uso privado e na publicização inconsequente da vida alheia.
Resumo: Neste estudo documental, de abordagem qualitativa e exploratória, identificamos e analisamos 103 reportagens no periódico online El País Brasil, produzidas e veiculadas entre janeiro/2019 e fevereiro/2020. A escolha pelo referido jornal ocorreu pela percepção costumeira em relação ao seu posicionamento progressista quando comparado à maioria dos grandes jornais brasileiros. Utilizando-se da análise crítica da ideologia de Thompson (2011), observamos que no conjunto das reportagens coletadas puderam ser elaborados 5 agrupamentos temáticos, os quais foram analisados separadamente, embora consideramos um grau de interdependência entre todos eles: (1) machismo – 39 reportagens que abordaram naturalização do comportamento machista de jogadores e a discussão de ineditismos quanto aos direitos das mulheres no esporte/sociedade; (2) política e fascismo – 20 reportagens que evidenciaram as relações políticas com esporte, bem como, questões envolvendo fascismo e contextos históricos; (3) racismo – 16 matérias que trataram quanto a questões racistas envolvendo o campo esportivo; (4) mercadorização e tecnologias – 16 reportagens em que se explicitam as relações entre esporte, mercado e tecnologias; e, (5) homofobia e preconceitos/assédio sexual – 12 reportagens que explicitaram casos de homofobia e preconceitos sexuais diversos. Concluímos que o esforço do periódico em pautar temas importantes da política contemporânea é limitado pela sua estrutura conservadora, tanto na ordem do discurso quanto no dos interesses econômicos, e propriamente ideológico, pois que sob a aparência progressista junta-se aos esforços de manutenção da ordem do poder.
ResumoEste artigo, apoiado em uma etnografia realizada no Centro de Treinamento do Caju, do Clube Atlético paranaense, objetiva refletir sobre o modo através do qual o CAP seleciona seus futuros atletas. Descrevendo as diferentes maneiras de recrutar jogadores, discuto sobre os limites da ciência para a detecção dos "talentos". Concluo que é na relação fenomenológica entre o olhar e o se-movimentar -do olheiro com o jogador -que o devir jogador de futebol se realiza. Palavras Chave: Futebol -ciência -técnica/tecnologia -fenomenologia. AbstractThis paper, supported by an ethnography in the Cashew Training Center, Clube Atlético Paranaense, reflects on the way in which the CAP selects its future athletes. Describing the different ways to recruit players, I discuss the limits of science to detect the "talents". I conclude that it is the phenomenological relationship between the eye and moving oneself -the scout with the player -that becoming a football player is held.
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