Resumo: O cinema constrói uma diversidade de narrativas importantes para discutir sobre a humanidade e seus modos de relacionar-se. Muitas delas tratam do autoritarismo dos estados e sua antítese, que é a revolta, a resistência. Objetivamos analisar duas dessas narrativas fílmicas, intituladas Manhã cinzenta e Contestação, ambas de 1969, tanto por serem filmes que tematizaram sobre o protagonismo dos estudantes frente ao autoritarismo e à violência das ditaduras, quanto por terem sido compostas por reutilização de imagens de arquivos fílmicos e jornalísticos, destes, sonoras de noticiários e clipagem de jornais. Essas narrativas serão lidas tendo como embasamento as teses benjaminianas, a fim de observar como foram construídas as temporalidades, a percepção dos acontecimentos, a construção da história. Essas narrativas suscitam reflexões e debates sobre os movimentos autoritários e repressivos, mostrando-nos a relação entre arte e política como um modo de colocar-se no tempo e no espaço. Assim, o engajamento de intelectuais e artistas, imbuídos da noção de que a arte pode ser um canal de mobilização efetiva, se mostra como uma forma de intervenção transformadora da realidade, e contestadora da grande narrativa da história.Palavras-chave: cinema político; história; regimes autoritários; teses benjaminianas.Abstract: Cinema builds a diversity of important narratives to discuss humanity and its ways of interacting. Many of them deal with state authoritarianism and its antithesis: revolt, resistance. This paper aims to analyze two of these film narratives, entitled Grey Morning and Contestation, both from 1969, for two reasons: they are documentaries that thematize students’ protagonism against the authoritarianism and violence of dictatorships; they were composed by reusing images of filmic and journalistic files, newscast audios and newspaper clippings. These narratives will be read on the grounds of Walter Benjamin’s theses, in order to observe how temporalities were constructed, together with the perception of events and the construction of history. These narratives raise reflections and debates on authoritarian and repressive movements, showing the relation between art and politics as a way of inserting oneself in time and space. Thus, the engagement of intellectuals and artists, imbued with the notion that art can be an effective channel for mobilization, stands as a form of intervention that transforms reality and challenges the grand narrative of history.Keywords: political cinema; history; authoritarian regimes; Walter Benjamin’s theses.
Cinema builds a diversity of important narratives to discuss culture and language. Many of them deal with authoritarian states and their antithesis, rebellion, resistance. This study analyzes the film narrative Contestação (1969), by João Silvério Trevisan, an experimental documentary on the protagonism of students against the authoritarianism and violence of dictatorships, from which we will analyze the narrative itself, as well as its composition made from the reuse of media material, film archives and journalism, and music as an element of the filmic montage; it analyzes this intermedia process between word and image. This analysis will be based on Walter Benjamin’s Theses on the Concept of History, in order to observe how the film formulates temporalities, the perception of events, and the construction of history. For the analysis of the composition of the film, concepts from theorists such as Eisenstein, Bakhtin, Kristeva, and Intermediality theorists, among others, were used. Article received: December 13, 2019; Article accepted: January 31, 2020; Published online: April 15, 2020; Original scholarly paper
The film Manhã cinzenta (1969), by Brazilian filmmaker Olney São Paulo, is a fictional documentary in a short film, which works with fictional space scenes and real elements (clipping from newspapers, movie posters, radio news, images from student marches, and police repression). As a political-artistic form of resistance to the 1964 Brazilian civil-military dictatorship, it is a manifest against authoritarian regimes, also referring to the Latin American dictatorships of 1960-1970. Based on the work of Rajewsky and Clüver, we analyzed, from the intermediate texture, the relationship between image and music, respectively, “epidermis and muscle” by Wingstedt, threads of an artistic and political texture as elements of the constitution of a multimedia body: metaphor of resistance. The film can contribute to breaking with the logic of domination - a logic that is structured by the monopoly of discourse about the past, which in current times has been trying to extinguish from history, from memory, the violent event of the Brazilian civil-military coup. For this reason, it is important to study it, due to the importance of this film as one of the most significant films about resisting, having also been a metaphor for the life of the filmmaker himself.
Nossa proposta de ensaio é uma análise do média-metragem Manhã cinzenta (1969), do cineasta baiano Olney São Paulo produzido durante o período de recrudescimento da ditadura civil-militar brasileira, e trata da resistência estudantil a essa ditadura. Buscaremos observar a intermidialidade como constituidora do discurso fílmico, a partir das definições de Claus Clüver (2006), Walter Moser (2006) e de Irina Rajewsky (2012). Partimos para uma análise que privilegia as relações entre o cinema e a música – ainda que não deixemos de considerar outras mídias, que se combinam para dar consistência à tessitura do filme, como a relação com o teatro e com as mídias comunicacionais (rádio, jornal, fotojornalismo, cartaz de filme). A música, nessa obra, é um elemento sonoro que atua como um item da montagem e não como uma simples adição para a composição da trilha sonora. Como item da montagem, ela contribui para a construção de discursos, por meio das metáforas, da ironia e dos jogos dialógicos.
Neste tempo presente, não há como dissociar arte e política, que se realizam nos mesmos pontos dos textos: na forma ou no conteúdo, ou em ambos. Manhã cinzenta (1969), média-metragem do cineasta baiano Olney São Paulo, é significativo em relação aos engajamentos artísticos e políticos, sendo um dos mais importantes filmes da resistência contra a ditadura civil-militar de 1964, por realizar uma leitura e interpretação do contexto histórico no momento de seu acontecimento, sendo também uma espécie de metáfora da vida do próprio cineasta, afigurando-se como uma ferida em seu corpo estilhaçado pela tortura. Embasamos nossa leitura e análise nos pressupostos teóricos de Marc Ferro (1971; 1992) e de Robert Rosenstone (2010) de que os filmes e os arquivos fílmicos podem suprir a ausência dos documentos oficiais tradicionais, dos quais a história lança mão para construir seu discurso, sendo, portanto, em sentido derridiano, suplementares para a construção historiográfica, podendo ser fontes para a compreensão de contextos e de acontecimentos históricos.
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