Neste artigo, pretende-se analisar o sintagma nominal “cidadão de bem”, enquanto parte do discurso antipetista que emerge no pós-Junho de 2013, conforme ele é retomado pelas desnotícias publicadas no portal humorístico The Piauí Herald. Esta análise fundase sob a perspectiva de que a paródia satírica é fruto de um fazer sobre a memória discursiva. Observou-se, portanto, a circulação do SN no discurso originário (antipetista) e sua integração ao discurso paródico do site de desnotícias, destacando os efeitos de sentido sobre a memória da disputa pelo sentido de “cidadão de bem”. Concluiu-se que a paródia satírica do The Piauí Herald, antes de marcada pelo ataque direto, constitui-se pelo exagero da contradição interna à memória discursiva da disputa pelo sentido do SN “cidadão de bem”.
A Análise de Discurso proposta por Michel Pêcheux se exerce sobre a dupla materialidade da língua (base) e do discurso (processo). No entanto, há uma insatisfação, tanto dos linguistas quanto dos analistas do discurso, relativa ao suposto esquecimento do aspecto linguístico na AD. Assim, pretendo estabelecer um percurso de leitura sobre o conceito de “língua” no projeto teórico da Análise Automática do Discurso (1969-1983) de Michel Pêcheux como uma maneira de expor e defender sua importância nas análises e no arcabouço teórico da Análise do Discurso contemporânea. O percurso deste trabalho, portanto, inicia-se pela apropriação discursiva dos primados da metáfora sobre o sentido e do valor sobre a significação, estendendo-se até suas reelaborações finais, em que se formula a assunção de que a língua é capaz de revolta.
RESUMO Neste artigo, busca-se desenvolver um exercício de elucubração sobre o conceito de “ordinário do sentido”, proposto inicialmente por Michel Pêcheux. O conceito, contudo, não foi plenamente desenvolvido devido à morte prematura do filósofo francês em 1983. Assim, o que se pretende é conjecturar o que poderia ser este “ordinário do sentido”. Para tal, em acordo com as sugestões de Pêcheux, segue-se explorando a “análise da linguagem ordinária”, conforme proposto por Ludwig Wittgenstein, e sua reinterpretação culturalista elaborada por Michel de Certeau nas “artes de fazer” cotidianas. Ao final do percurso, chega-se a duas hipóteses: a primeira é que o “ordinário do sentido” não configuraria um “aspecto” do sentido (ou a inclusão de novos objetos, como conversas etc.), mas sim um novo paradigma para se exercer a análise de discursos a partir de um “materialismo prático”; a segunda é que pensar o sentido em sua via ordinária faz com o que a análise do discurso tenha de levar em conta as práticas discursivas e seus diagramas de ação. Como singela homenagem às mais de 660 mil vítimas da covid-19 no Brasil, a discussão em torno dos jogos de linguagem e das práticas cotidianas será balizada pela leitura de um post do Memorial Inumeráveis em uma de suas redes sociais.
Neste ensaio teórico, busca-se discutir a relação entre duas formas de “imitação” do discurso jornalístico: as desnotícias (ou notícias satíricas) e as fake news. Ambos os gêneros se espelham no discurso jornalístico para se construírem, ao mesmo tempo que produzem efeitos completamente distintos: um provoca o riso, o outro, a desinformação. Algumas questões se colocam: qual a brecha presente no campo jornalístico, tão afeito aos fatos e à verdade, que permite sua completa subversão para fins tão diferentes dos seus? Como ela é explorada? Por consequência, quais os efeitos e fundamentos dessa subversão? Este ensaio pauta-se pela tese de que o campo jornalístico funda-se através do rompimento com um discurso engajado: considera-se que a mudança de um regime discursivo pautado pela agenda política (como o discurso publicista) para um pautado pela competição econômica marca a fundação do campo jornalístico (CHALABY, 1998). É nesse rompimento que o discurso jornalístico institui como valor ético central de sua prática a “norma da objetividade” (que engloba outros valores, como neutralidade, equilíbrio, honestidade etc.). O que se pretende expor neste ensaio, portanto, é que, delegando a constituição de sua cenografia (isto é, o modo como constrói sua legitimidade frente aos leitores) ao controle do registro linguístico-discursivo, o discurso jornalístico abre espaço para outros usos cenográficos (como os da desnotícia e da fake news), de variadas matizes éticas, que se fiam na memória de sua legitimidade.
Para esta pesquisa, assume-se que o humor é um campo discursivo, Um campo tem regras de funcionamento específicas, bem como gêneros discursivos que fizeram e fazem história no campo. O objetivo foi analisar um gênero discursivo emergente neste campo discursivo, a "desnotícia", de presença originalmente online. Fizeram parte do corpus desnotícias do blog the Piauí Herald, integrante do site da revista Piauí. As análises foram feitas a partir da Análise do Discurso francesa, contanto também com teorias do humor, bem como com alguns conceitos da psicanálise. O foco das análises foi o funcionamento da memória discursiva e da cenografia, a partir da alusão a acontecimentos.
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