O capítulo analisa uma experiência bem-sucedida de incubação de empresas que vem se desenvolvendo no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Inovadoras (Celta) localizado na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, há mais de décadas. O Celta é uma incubadora multissetorial de base tecnológica, que mantinha, em 2011, 32 empresas incubadas, contando ainda com 70 empresas consolidadas no mercado. Foi uma das primeiras incubadoras tecnológicas no Brasil e que, desde o início, destacou-se pelo desempenho inovador de suas empresas. O capítulo analisa a constituição de uma cultura de inovação em uma região sem tradição industrial. Trata-se de um caso incomum no país tanto no que diz respeito à natureza das inovações produzidas (inovações que se destacaram pela contribuição ao país como, por exemplo, o bafômetro e a urna eletrônica) quanto à estreita relação entre empresas e universidades, e, por isso, não pode ser generalizado. Estudos realizados entre empresas incubadas evidenciam que, no Brasil, as inovações produzidas tendem a ser, sobretudo, inovações para a empresa e/ou para o mercado local, enquanto as interações tanto formais como informais entre universidade-empresa são ainda pouco expressivas. Que fatores teriam contribuído para superar carências históricas da realidade brasileira e que favoreceram o desenvolvimento de inovações tecnológicas que alcançaram o mercado internacional na incubadora do Celta? A interrogação torna-se mais pertinente ao se considerarem as características da região em que este empreendimento se localiza que não se destacava no ramo industrial. Portanto, supor que as transformações ocorridas originaram-se da consolidação de uma base industrial e empresarial já existente seria implausível. Explicar a criação, expansão e consolidação de empresas de base tecnológica e o fortalecimento das atividades de P&D como resultado exclusivo de um arranjo institucional seria igualmente insuficiente, uma vez que arranjos institucionais consolidados são encontrados em outras regiões do país, sem os mesmos resultados quanto a desempenho inovador. Buscou-se, então, fundamentar o estudo em pressupostos que se baseiam na perspectiva que integra trajetórias de atores, recursos territoriais e arranjos institucionais preexistentes. Apoiamo-nos: a) nas formulações de Muller, Héraud e Rafanomezantsoa sobre cultura regional de inovação, e b) no conceito desenvolvido por Fligstein de “atores estratégicos hábeis” ou “empreendedores institucionais” semelhante ao conceito de “desempenho hábil” de Giddens, referindo-se aos atores capazes de induzir a cooperação de outros para criar novas ordens e significados.