Esta pesquisa se apresenta como um ensaio sobre a reciprocidade a'uwẽ-xavante e a dádiva, analizando relações que abarcam também elementos como predação e tradição. Os dados e assuntos tratados foram selecionados através da leitura de etnografias sobre o povo A'uwẽ-Xavante, orientada também por análises de etnologia ameríndia amazônica e do Brasil Central. A partir de uma recuperação da noção de dádiva com seus paradoxos constituintes e suas transformações, aplicada a uma variedade de aspectos como o parentesco, a casa, o tangível e o intangível-igualmente simbólicos-e assim por diante, também procurou-se reconstruir o interesse teórico de Mauss, seja para a antropologia em geral, seja para a etnologia ameríndia em particular. Com esses elementos, circuitos de dádiva e reciprocidade ameríndios podem ser repensados a partir da aplicação ao caso estudado.
A rede sociocósmica a’uwẽ-xavante manifesta aspectos (endo)canibais, como uma “teoria da digestão” e dos “modos à mesa” (palavras de Lévi-Strauss). O fora, origem do alimento, é a fonte do poder e o lugar para onde irão os mais velhos ao se tornarem antepassados, numa cadeia retroalimentar que lembra uma “garrafa de Klein”. A humanização plena de todas as pessoas e entidades, o contágio mimético total, é evitado a partir de cortes na rede, traçados não só pelo parentesco, mas também pelo jogo do paraparentesco. Entretanto, parentesco e paraparentesco não se submetem totalmente um ao outro, cada qual podendo afirmar suas próprias concepções de humanização. Argumento que, ao analisar esta rede, pode ser compreendida a forma a’uwẽ-xavante de lidar com a alteridade.
Este é um experimento de aplicação do método de análise estrutural dos mitos ameríndios de Claude Lévi-Strauss e sua “fórmula canônica” na comparação de formas políticas republicanas, anarquistas e ameríndias, tomando como premissa a afirmação do autor de que “nada se assemelha mais ao pensamento mítico que a ideologia política”. Sugere-se que formas políticas ameríndias operam dupla torção sobre formas republicanas.
resumo Apresentarei hipótese teórica para o diálogo entre formas políticas ameríndias e anarquistas através da antropologia, destacando uma influência anarquista sobre a disciplina e contribuições que o diálogo pode oferecer tanto ao anarquismo quanto à antropologia. Apontarei semelhanças entre reflexões de Pierre-Joseph Proudhon e Claude Lévi-Strauss a partir da perspectiva do anarquista que pode ter influenciado o antropólogo americanista. Tais ressonâncias se desdobram no estudo do "princípio federativo" através do "dualismo político" proudhoniano e no "dualismo em perpétuo desequilíbrio feito política" investigado por Beatriz Perrone-Moisés e Renato Sztutman nas "formas políticas" ameríndias. Daí surgem desvios da política que apontam para contribuições teóricas e organizacionais dos indígenas para o anarquismo, com especial atenção para as alternativas dos A'uwe-Xavante, com quem tenho feito pesquisa etnográfica. Tais contribuições também afetam certa antropologia conectada ao anarquismo, ambos transformados pela "indianidade".palavras-chave Anarquismo; Indígena; Perspectivismo; Dialética; Dualismo. Anarcho-indigenous perspectivist dialecticsabstract I present a theoretical hypothesis for the dialogue between Amerindian and anarchist political forms through anthropology, highlighting anarchist influence on the discipline and the contributions this dialogue can bring to anarchism as well as to anthropology. Resemblances between Pierre-Joseph Proudhon's and Claude Lévi-Strauss' reflections will be pointed from that anarchist's perspective that may have influenced this americanist anthropologist. Such resonances are unfolded by the study of the "federative principle" through proudhonian "political dualism" compared to the "dualism in perpetual imbalance made politics" researched by Beatriz Perrone-Moisés and Renato Sztutman associated with Amerindian "political forms". From this meeting point some deviations turn aside from politics, pointing to indigenous theoretical and organizational contributions to anarchism, especially considering A'uwe-Xavante's alternatives, on which I develop an ethnographical research. Such contributions also affect a certain anthropology connected with anarchism, both transformed by "indianity".
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