Os Guató são um antigo povo canoeiro, habitante das margens dos rios Paraguai e São Lourenço, no Pantanal brasileiro. A sua língua não é mais usada; apenas pouquíssimos idosos a preservam, parcialmente, em sua memória. Eufrásia Ferreira, uma desses últimos falantes, é a narradora da história aqui apresentada, em que uma mulher é capturada por um macaco guariba enorme e, depois, foge do cativeiro. Trata-se da primeira narrativa guató completa registrada na própria língua, analisada e publicada.
O guató é uma língua indígena seriamente ameaçada cujo povo habita o Pantanal desde tempos imemoriais. Para entender como se deu a obsolescência desta língua, apresentamos três processos que levaram à desestruturação da família guató: o celibato masculino, o casamento feminino com neobrasileiros e o apadrinhamento/apropriação de crianças por fazendeiros. Para tanto, relatamos e comentamos entrevistas dadas por Guatós sobre como a língua deixou de ser utilizada em suas famílias. Como o povo guató apresentava um padrão de assentamento dispersivo e uma atomização de famílias, estes três processos (concomitantes e que afetaram de formas específicas diferentes famílias) contribuíram para a degradação dos liames que sustentavam o idioma guató. Junto com determinantes sociais e demográficos que não analisamos mais detidamente – como epidemias, desproteção econômica e falta de identificação oficial – a desestruturação familiar levou ao fim do antigo modo guató de habitar o Pantanal e de sua língua, que agora sobrevive como memória de alguns idosos e, de maneira mais restrita, no ambiente escolar e em tentativas de revitalização.
Trato da referência temporal espaço-visual em diferentes línguas faladas-e-gesticuladas e sinalizadas, partindo da discussão apresentada em Por uma gramática de línguas de sinais (FERREIRA, 1995). Apresento cinco microestudos. Após introduzir as questões (§2) e meus dados (§3), traço um perfil etnográfico da língua de sinais ka’apor (LSK), majoritariamente usada por ouvintes com laços socioespaciais com surdos. §4 descreve a referência temporal na LSK e na língua ka’apor (da família tupi). Com dados primários, apresento os sinais temporais e suas relações com as contrapartidas lexicalizadas da língua falada e de seus gestos. Classifico três subsistemas: lexicalização da periodicidade diária pela imagem da dormida (§4.1); adverbiais que indicam transições de luminosidade celeste (§4.2) e apontamentos para a trajetória dos astros como lexicalização dos “horários” do dia (§4.3). Em §5, discuto a recorrência do sistema de temporalização por apontamentos explicado em §4.3. O subsistema por apontamento está presente em outras línguas faladas (§5.1), e é recorrente também em outras línguas de sinais de matrizes socioculturais diversas das institucionais e europeizadas (§5.2). Em §6, comparo os sinais da língua neobrasileira de sinais (Libras) com os gestos temporais do português neobrasileiro. Observo o compartilhamento, entre surdos e ouvintes neobrasileiros, de esquemas subjacentes ao domínio-alvo do tempo. À luz destes microestudos, reconsidero as conclusões de Ferreira (1995 [1983]) (§7). Enfatizo sua contribuição comparatista entre línguas de diferentes modalidades semióticas e de diferentes matrizes socioculturais (§8).
Este trabalho não poderia ser terminado sem a ajuda de diversas pessoas às quais presto minha sincera homenagem:A minha orientadora Profa. Dra. Carla Cavaliero, que me mostrou os caminhos a serem seguidos, pela confiança, muita paciência e apoio desde o Mestrado. Obrigado pelos seis anos de orientação. Também, ao co-orientador deste trabalho, Paulo Ferreira, muito obrigado.Aos meus pais, Anibal e Nona, que me ensinaram o valor do estudo, pelo incentivo em todos os momentos e pelos valiosos ensinamentos de vida.
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