Este artigo tem o objetivo de investigar a concepção de real que está implicada na reflexão feita pelos teóricos do (neo)fantástico, já que é o modo como se concebe a realidade que estabelece o que é fantástico ou não. É a partir dessa relação movediça entre o “real” e o “imaginário” que o impacto gerado pela obra de Franz Kafka no século XX serve como ponto fundamental para que teóricos como Jaime Alazraki e David Roas postulem um neofantástico. Em termos semióticos, a reflexão desses autores está ligada à crise de veridicção a que aludem Greimas (2014) e Fiorin (2008) e indicia que o real, a partir dos escritos de Kafka, e em confluência com outros acontecimentos do mencionado século, passa a ser visto de modo concessivo (paradoxal). Será a partir desses pontos que, por fim, faremos uma análise do conto “A preocupação do pai de família”, a bem de ilustrarmos essas questões em um texto específico do escritor tcheco.
No presente artigo, trataremos de uma questão referente à dimensão veridictória dos discursos, ainda a ser mais explorada em semiótica, a nosso ver: a imbricação (neutralização?) entre regimes subjetivos e objetivos de veridicção presente no discurso autobiográfico. Nossa discussão se dará a partir da obra Memórias do Cárcere (1953), de Graciliano Ramos, que traz inúmeras questões sobre o seu estatuto de “realidade”. Esse desiderato se dará em diálogo com autores como Jacques Fontanille, mormente em sua obra Corpo e sentido; Izidoro Blikstein, e sua noção de verdade subjetiva; e Wander Melo Miranda, em seu trabalho Corpos escritos, dedicado à temática na obra de Graciliano Ramos em estudo. O intento deste artigo é o de mostrar que a peculiaridade veridictória do texto do escritor alagoano é afirmada não pela via de uma enunciação objetivante (mais da ordem do “registro”, da adequação aos fatos), mas pela dimensão estética de sua obra, pela imbricação entre o memorial e o literário e pela força figurativa do sensível e da estesia. Esses elementos nos poriam em face de uma narração mais do devir de um sofrimento, do simulacro de quem “sentiu na pele” a dor, do que de um relato documental dos acontecimentos vividos na cadeia.
o presente trabalho tem como meta proceder à análise da relação de contraposição entre o discurso de André Comte-Sponville (1952-) e o do filósofo dinamarquês Kierkergaard (1813-1855) no que tange especificamente ao modo de abordar a paixão do desespero. Com base na análise, podemos dizer que, por considerar o desespero de modo positivo, de maneira oposta à do filósofo dinamarquês, Comte-Sponville se posiciona não só em relação a Kierkergaard mas também em relação a toda uma tradição do pensamento ocidental. Entendemos que, na malha interdiscursiva que o envolve, o pensamento do filósofo francês ainda se mostra capaz de dialogar com os discursos sobre o desespero tecidos na contemporaneidade, uma vez que, ao euforizar “um aprender a viver sem esperanças”, afirma a imagem moderna de um mundo vivido na distopia. Para levar a efeito a análise, nos ancoramos em conceitos extraídos da Análise do Discurso Francesa (MAINGUENEAU, 2008) e da Semiótica Discursiva (GREIMAS; COURTÉS, 1979; SARAIVA, 2012; OLIVEIRA, 2019), tendo em vista as convergências possíveis entre esses dois campos de pesquisa.
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