Três silêncios organizam a memória do Brasil sobre os anos da ditadura militar. O primeiro silêncio recai sobre o apoio da própria sociedade e, em especial, sobre o papel dos empresários dispostos a participar na gênese da ditadura e na sustentação e financiamento de uma estrutura repressiva muito ampla que materializou, sob a forma de política de Estado, atos de tortura, assassinatos, desaparecimentos e sequestros. O segundo silêncio incide sobre as práticas de violência cometidas pelo Estado contra a população e direcionadas para grupos e comunidades específicosem particular, as violências cometidas contra camponeses e povos indígenas. O terceiro silêncio impede a sociedade brasileira de conhecer a estrutura e os procedimentos de funcionamento do aparato de inteligência e repressão da ditadura.
HELOISA MARIA MURGEL STARLING A República e o Sertão. Imaginação literária e republicanismo no Brasil Este artigo tem por objetivo refletir sobre as pretensões de enraizamento e ancestralidade dos fundamentos políticos do republicanismo no Brasil. Para tanto pretende retomar as formulações sobre o conceito de sertão gerado no interior da imaginação histórica e literária brasileira como um dos caminhos possíveis para interpretação da República e de seus ideais normativos. O recurso à idéia de sertão exprime a importância do registro de imaginação, invenção e simbolização para compreensão do tema da fundação. Nesse cenário, o artigo pretende retomar o conceito de sertão no percurso da imaginação literária brasileira ancorado por três autores: Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa.
Apresentação E m um país como o Brasil, que não conheceu uma experiência política capaz de ser legitimamente chamada de republicana, o que vem a ser a República? Para responder à indagação, a realização deste Dossiê exigiu o engate de três percursos. O primeiro buscou vasculhar as origens da tradição do republicanismo de forma ampla; o segundo registrou a formação de matrizes dessa tradição entre nós; o terceiro explorou as condições de construção histórica e política do experimento republicano no país.O retorno da reflexão contemporânea ao fio mais original e resistente do republicanismo, executado no primeiro bloco dos artigos, tem por objetivo identificar conceitos e questões próprios à tradição que podem servir a dois propósitos: de um lado, trazer à tona elementos conceituais pertinentes ao exame da natureza das sociedades democráticas no contexto atual; de outro lado, fornecer elementos que auxiliem na interpretação da realidade específica de uma república, como a brasileira, que precisa ampliar o acesso aos frutos sociais gerados pela introdução da democracia política no país.Dessa maneira, esses primeiros ensaios são voltados para explorar o perfil de uma tradição que nos alcança até o presente. Oferecem uma investigação sobre os traços de uma compreensão original da vida pública, presente no período do chamado Humanismo Cívico; ou sobre a pertinência da trajetória da idéia de pátria para a construção da comunidade política; ou, ainda, sobre os limites da famosa contraposição entre liberdade negativa e liberdade positiva para se pensar problemas complexos como o das virtudes cívicas, da participação política, da identidade constitucional ou o do patriotismo.A idéia do resgate a certos temas e aspectos do pensamento republicano próprios à imaginação política e social brasileira dos séculos XVIII, XIX e XX, presente no segundo bloco de artigos, sugere que o pensamento republicano chegou até nós por duas vias: a primeira é a do republicanismo anglosaxão que, pela influência dos radicais e federalistas americanos, se fez presente, por exemplo, no final do Setecentos mineiro ou nas discussões sobre os destinos do Império, pela voz de personagens como Rebouças, Ottoni, Nabuco. A segunda via, de influência francesa, nos liga tanto à tradição jacobina quanto ao positivismo do século XIX, e teve influência decisiva na definição da forma política assumida pela República entre nós.Por fim, o último bloco de ar tigos indica as condições históricas de retração do republicanismo no Brasil, e
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