O artigo problematiza os achados, em um município do Sul do Brasil, de uma pesquisa sobre a produção de cuidado nas redes de atenção à saúde, no que se refere à potência do vínculo como conceito-ferramenta para a reorganização dos processos de trabalho de equipes de saúde. A estratégia metodológica foi a abordagem cartográfica, mediante o acompanhamento de experiências vividas com três usuários-guia, visando aproximar a perspectiva dos investigadores daquelas dos usuários. Problematizou-se o reconhecimento mútuo e a busca de relações simétricas, com deslocamento das posições de saberes como condição ética para a emergência do vínculo. Propõe-se a construção do vínculo como potente estratégia para transformação das práticas cotidianas de saúde, a partir de um projeto ético-estético-político centrado nas demandas e necessidades em saúde dos usuários, em sua singularidade, e mediante relações simétricas.
Starting with a discussion of the biomedical model and its implications in the shaping of healthcare professionals and health practices, this article analyzes the concept of integrality as associated with the Unified Health System (SUS) [Sistema Único de Salud] in Brazil. Particular attention is paid to the disputes regarding the meaning of integrality and the ways of putting the concept into practice in everyday health care work. Based in a research study conducted at the national level, the authors suggest two aspects crucial to fostering integrality: an ethical-political project founded in the recognition that other people's lives are worthwhile and enriching; as well as the existence of additional spaces conducive to discovering diverse ways of producing life, in which integrality in health care is also possible and powerful. The authors affirm the relevance of this process as a contribution to the continual construction of the SUS in Brazil.
Este artigo busca tensionar os equívocos do modelo biomédico hospitalocêntrico privatizante com base na resposta à epidemia pela Covid-19, que tem como centralidade o cuidado no hospital e as tecnologias duras e leve-duras. Mostramos, como elementos agravantes nesse cenário, o projeto político governamental de desfinanciamento do sistema público de saúde e de outras políticas sociais. Trazendo a experiência de outros países para a cena, apresentamos os “cuidados de proximidade” como construção de base territorial centrada nas tecnologias leves para a produção de cuidados de alta complexidade, presentes sob diversas modelagens no Sistema Único de Saúde (SUS), que vêm sendo pouco aproveitadas nesse momento. Buscamos mostrar o potencial dos cuidados de proximidade para a criação de redes vivas de existência e as possibilidades que abrem para reconfigurar não apenas o modelo de enfrentamento da epidemia, mas também o do pós-pandemia.
This essay is a reflection from some health research experiences with a cartographic approach and field diary records. More than a mere recording instrument, the cartographic diary is an empirical multi-media, multi-lingual, multi-voice and, especially, multi-time, collective narrative of affectivity, a singular and collective tool produced at the meeting. To register a cartographic research is to enter a temporal dimension, an intuitive action that updates the past because it is written "from within" the meetings, and includes the subjects' voices. In cartography, the presence of the narrator in the text is not a bias, but a condition, with different modes of entry, narrative co-authorship or views from the points of view. Any variation of any of the three main discursive modes is used to cite the other: direct speech, indirect or free indirect, but especially the latter, because it allows maximum speech interference.
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