Resumo Em 2015, na ocasião de seu cinquentenário, a Rede Globo desenvolveu programas que visavam a rememorar sua trajetória institucional. Um desses programas foi intitulado de “Especial Globo 50 anos” e fez um retrospecto dos principais setores da emissora. O artigo que se segue propõe, dessa forma, analisar o programa a fim de perceber como a narrativa memorialística reafirmou o lugar de importância da emissora e ressaltou um legado perante seus receptores. Com o propósito de atender a esses objetivos utilizou-se metodologicamente da “análise da materialidade audiovisual” e do termo “historicidade mediada” proposto por Thompson. Os resultados alcançados demonstraram que o aniversário da instituição foi fundamental para o constructo de um processo de rememoração que se materializou por meio de uma gama de programas. Estes, em especial o programa analisado, definiram um lugar na História, enquanto mérito, ocupado e ressignificado pela emissora.
No ambiente competitivo da imprensa contemporânea frente à ascensão das redes sociais como meios através dos quais, cada vez mais, o público se informa, veículos de comunicação tradicionais, como a TV aberta, têm elaborado estratégias para manter ou recuperar sua reputação junto à audiência, por meio da defesa da qualidade do conteúdo jornalístico veiculado. No caso específico da Rede Globo de Televisão, a maior do Brasil, tornou-se indispensável recuperar a confiabilidade do público, por meio de narrativas de rememoração, que deslocam o perfil da emissora de aliada da ditadura militar brasileira (1964/1985) para vítima, ou antagonista. Para demonstrar os artifícios narrativos usados para tal fim, analisaremos o programa “Especial Globo 50 Anos”, a série de cinco episódios do “Projeto William Bonner no JN”, e a supersérie “Os dias eram assim”, baseados nos estudos de memória e na metodologia de análise crítica da narrativa.
A ressignificação da história recente do Brasil e do papel da Rede Globo na construção dessa memória são um dos motes narrativos da supersérie “Os dias eram assim”, que estreou na emissora, no dia 17 de abril de 2017. O período ditatorial brasileiro foi cenário para a história de amor dos protagonistas. Entretanto, a velha fórmula de sucesso, melodramática e folhetinesca, ganha nova roupagem quando rememora os anos de exceção, a partir daquilo que a emissora, na época, escondeu: as graves violações aos direitos humanos e a ampla participação da sociedade civil. Na análise, percebeu-se que no ritual de rememoração, ao mesclar imagens de arquivo dos telejornais à narrativa ficcional, a Rede Globo, por meio dessa hibridização, não só ressignificou a história, como também o seu lugar de fala.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.