No Brasil, o câncer de próstata (CaP) é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, sendo responsável por mais de 14 mil mortes/ano. Embora o diagnóstico e parte do planejamento terapêutico sejam baseados nos achados da biópsia, o risco de subestadiamento não é desprezível. O objetivo desse estudo foi comparar os dados da biópsia de próstata transretal guiada por ultrassom (BTUS) com os resultados anatomopatológicos da peça cirúrgica (APp) de pacientes com CaP submetidos à prostatectomia radical (PR) em um Hospital Universitário, visando conhecer e avaliar a taxa de graduação e subestadiamento desse procedimento. Foram avaliados, retrospectivamente, todos os pacientes com diagnóstico de CaP clinicamente localizado, realizado através de BTUS, submetidos à PR em nosso hospital, no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2019. Esta população foi caracterizada segundo dados clínico-demográficos e achados obtidos a partir da BTUS e peça cirúrgica. A média de idade dos 150 pacientes que preencheram os critérios de inclusão foi de 63,1 (±6,5) anos, com um valor médio de PSA de 10,8 (±14,1) ng/mL ao diagnóstico, sendo a maioria brancos (84,3%). Em média, foram amostrados 9,65 (±4,7) fragmentos, com uma porcentagem de acometimento de cerca de 42,5%. O tempo decorrido entre a biopsia e a cirurgia foi de 5,7 (±3,9) meses. A comparação dos escores de Gleason entre as BTUS e os APp revelou maiores níveis de concordância entre os tumores que apresentavam escore intermediário (Gleason 7: 85,1%), porém a taxa de subestadiamento encontrada para o Gleason 6 foi de 75%. O APp revelou invasão da vesícula seminal em 11,1% dos casos, invasão angiolinfática em 39,2% e perineural em 84,3%. Com relação ao estadiamento patológico, 58,5% apresentavam tumor restrito à próstata (T2). Nossos resultados demonstraram que, embora os índices de concordância da BTUS com o APp estejam de acordo com aqueles observados na literatura, tais valores diminuem consideravelmente quando avaliamos os extremos da diferenciação tumoral. Sendo assim, seus resultados devem ser interpretados com cautela, onde a decisão pela correta modalidade de tratamento deve se multifatorial e sempre discutida com o paciente.