RESUMOO uso da inteligência artificial (IA) no jornalismo já é uma realidade há alguns anos em veículos internacionais de referência, a exemplo da agência de notícias Associated Press. Entretanto, com a popularização de ferramentas de IA generativa, especialmente o ChatGPT, disponibilizado publicamente pela empresa OpenAI em novembro de 2022, o assunto passou a ter um nível de atenção jamais visto anteriormente, dentro e fora dos círculos acadêmicos e profissionais. Desde então, também é notório que empreendimentos jornalísticos estruturados sobre diferentes modelos de negócio passaram não apenas a experimentar, implementar ou intensificar a utilização desses recursos tecnológicos como também a reportar, embora com diferentes níveis de detalhamento, quais parâmetros adotam para o emprego dessas ferramentas. A partir de uma revisão da literatura recentemente disponibilizada sobre o uso da IA no jornalismo, este capítulo visa apresentar uma proposta de pesquisa de doutorado cujo foco é classificar, por meio de análise de conteúdo, os mecanismos de media accountability de veículos usuários de recursos de IA nas etapas de apuração, produção e distribuição de notícias, tendo como referência um dos indicadores do Trust Project, iniciativa global que desenvolve padrões de transparência para avaliação da qualidade e da credibilidade do jornalismo. Palavras-chave: jornalismo; inteligência artificial; produção de notícias; media accountability; indicadores de credibilidade.
INTRODUÇÃOO advento, em novembro de 2022, do ChatGPT, uma ferramenta do tipo chatbot desenvolvida pela empresa OpenAI e baseada em processamento de linguagem natural (NLP, na sigla em inglês), suscitou uma série de reflexões sobre possíveis impactos da inteligência artificial generativa nas mais diferentes áreas de atividade, sendo que o jornalismo é uma das que mais, potencialmente, deverão ser afetadas. Na visão de Shaw (2023), um dos grandes problemas a serem enfrentados pelas redações é que "o conteúdo gerado por IA aparentemente 'original' pode ser fortemente influenciado -ou copiado diretamente -de fontes de terceiros sem permissão", sendo que não há garantias jurídicas de proteção contra eventuais processos de autores que vierem a se sentir prejudicados pela reprodução não autorizada de conteúdo. As implicações do ponto de vista ético também são discutidas por Bell (2023, tradução nossa).