Introdução: Diante do diagnóstico de patologias endometriais nos deparamos com a necessidade de tomada de decisão quanto à conduta a seguir. Nesse contexto, além dos critérios clínicos relacionados, torna-se importante identificar nas anormalidades endometriais o seu potencial evolutivo, o que poderia ser obtido ao se evidenciar sinalização molecular que permitisse predizer evolução para o câncer. Dessa forma, seria possível destacar as anormalidades endometriais para as quais seria possível instituir uma conduta conservadora, distinguindo-se, assim, aquelas para as quais seria de fato indicado um tratamento cirúrgico. Um biomarcador capaz de predizer tal evolução permitiria decisões médicas mais precisas e a racionalização dos custos assistenciais. Entre alvos moleculares promissores, a V-ATPase, principal enzima reguladora do pH celular, tem ganhado destaque na oncologia por estar superexpressa na membrana plasmática de diferentes células tumorais, conduzindo a uma desregulação do pH intra e extracelular. Consequentemente, tem-se associado a V-ATPase a processos tipicamente alterados em câncer, como proliferação, invasão e metástase e resistência a drogas. Objetivo: Este estudo objetivou analisar por imuno-histoquímica a expressão da subunidade C (isoformas C1 e C2a,b) da V-ATPase em tecidos endometriais. Métodos: Realizaram-se levantamentos retrospectivos de blocos de parafina de material de endométrio normal (n=5), pólipos endometriais (n=5), hiperplasias (n=5) e adenocarcinoma (n=5) no laboratório de Anatomia Patológica do Hospital Escola Álvaro Alvim, obtidos de peças cirúrgicas, totalizando 20 blocos. Realizaram-se as análises da expressão das isoformas C1 e C2a,b no Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da Universidade Estadual do Norte Fluminense e avaliaram-se as lâminas em microscópio óptico. Resultados: A imunopositividade para a isoforma C1 foi predominante na região basal das células em tecidos normais e mais apical em tecidos hiperplásicos. Em relação aos tecidos neoplásicos, houve marcação difusa e intensa, com imunopositividade em toda a área tumoral. Enquanto a imunopositividade da isoforma C1 foi exclusivamente citoplasmática na totalidade dos tipos histológicos analisados, a isoforma C2a,b apresentou imunomarcação na membrana plasmática e no núcleo de algumas células neoplásicas, além do citoplasma. Os tecidos endometriais normais apresentaram, de forma geral, imunomarcação para C2a,b mais intensa e homogênea do que os tecidos de hiperplasia, pólipo e adenocarcinoma. Os tecidos hiperplásicos exibiram marcação mais difusa e na região apical das células, enquanto tecidos normais apresentaram marcação mais intensa tanto na região apical quanto basal. Conclusão: Os dados apontaram para a existência de padrão diferencial de expressão de isoformas C1 e C2a,b entre tecidos endometriais normais, hiperplásicos, pólipos e neoplásicos. Essa constatação abre a perspectiva de que novos estudos nesse campo possam avançar, visando à utilização da análise dessa enzima como possível biomarcador, tanto no que tange ao potencial de progressão de patologias endometriais para o adenocarcinoma quanto para a análise de prognóstico da doença.