Os povos e as comunidades tradicionais têm profunda relação com seu território no que tange à manutenção de sua organização social, política e cultural. Muitas são as ameaças que se impõem a eles, as quais vão das diversas formas hegemônicas de desenvolvimento aos desafios vivenciados a partir de questões ambientais. No caso dos caiçaras presentes na Mata Atlântica, não é diferente. Para tanto, buscou-se o estudo de caso da comunidade caiçara da Enseada da Baleia, que resistiu para permanecer na Ilha do Cardoso, em Cananéia-SP, mesmo após um processo erosivo que inviabilizou sua presença no local. Este trabalho teve como objetivo apresentar o papel das mulheres no processo de resistência para a permanência no Parque Estadual da Ilha do Cardoso. Para isso, foram realizados grupos focais e entrevistas semiestruturadas com as famílias da Enseada e parte de seus parceiros, além de pesquisas em fontes bibliográficas e documentais. Como resultado constatou-se que as principais vias de resistência que proporcionaram a permanência na Ilha do Cardoso ocorreram a partir do Grupo de Mulheres Artesãs da Enseada da Baleia (MAE), que influenciou a organização de algumas atividades socioprodutivas e a sua continuidade no local. Casos como estes, que poderiam se tornar invisibilizados pela sua dimensão e proposta, podem ser apresentados como alternativas para a compreensão de um pluriverso, conceito que defende um mundo onde coexistam várias formas de mundo, simultaneamente.
Buscando contribuir para discussões sobre interações entre comunidades tradicionais e quadros naturais, caracterizou-se alterações ao longo do tempo do uso das unidades de relevo, das terras e das águas nos territórios e nas territorialidades de comunidades caiçaras da Ilha do Cardoso. Elencou-se três diferentes padrões de mediação com as terras emersas e águas nas territorialidades das comunidades caiçaras, cada qual deles associados a diferentes conjuntos de técnicas de pesca artesanais predominantes. Apontou-se oscilação dos quadros naturais tomados como preferenciais para instalação das comunidades locais e aumento da centralidade da pesca nos modos de vida caiçaras após a normatização de seus territórios tradicionais e da própria Ilha como uma unidade de conservação em meados do século XX. Caracterizou-se posteriores flutuações ao longo do tempo da centralidade da pesca em cada um dos conjunto de territórios tradicionais locais, ligadas em parte ora ao endurecimento, ora ao abrandamento das restrições legais de uso do território vindas das modificações dos planos de manejo da unidade de conservação.
A eclosão da pandemia de Covid-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, gerou uma crise global sem precedentes. Desde o cenário econômico, passando pela forma com que a sociedade tipicamente capitalista se mostrava organizada, até o modo de vida dos povos originários se tornaram sujeitos a um profundo rearranjo. Na condição de invisibilizados históricos, os indígenas do estado do Paraná foram socialmente isolados e talvez sujeitos a condições de desigualdade incomparáveis em meio às estatísticas distorcidas e limitado apoio por parte dos órgãos competentes. Este estudo objetivou analisar as principais vulnerabilidades e manifestações de resiliência demonstradas pelos indígenas no Paraná, bem como discutir a subnotificação e os contrastes de dados acerca da sua contaminação e mortalidade por Covid-19 nesse contexto, tendo como referência as instituições de saúde estaduais e nacionais. A pesquisa apresentou natureza analítica, descritiva e quali-quantitativa, estando alicerçada na coleta de dados sob modo remoto, conduzida ao longo de dez meses, em que foram: (i) obtidas informações das duas instituições de saúde governamentais no monitoramento da Covid-19 entre indígenas no estado e das duas indígenas; (ii) aliadas concepções emitidas por indígenas em entrevistas e manifestações por eles registradas através de organizações indígenas. Chegou-se a alguns resultados não conclusivos: (a) os números de indígenas contaminados e mortos em decorrência da Covid-19 no Paraná se mostram discrepantes entre as instituições consideradas; (b) os indígenas do estado provavelmente se encontram com limitado acesso a serviços de saúde, incluindo a falta de testagem para a Covid-19, o que estaria contribuindo para uma possível subnotificação dos casos; e (c) a transparência das metodologias de coleta e da divulgação de dados não se mostra satisfatória entre as instituições de saúde oficiais analisadas.
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