A experiência francesa configura-se como um tema controverso na historiografia brasileira e ao mesmo tempo instigante. A análise deste histórico episódio esteve durante décadas desatenta ao protagonismo indígena na construção e manutenção do projeto França Equinocial e ao processo de formação do território Maranhense. Pretendo, neste artigo, explorar o projeto franco-ameríndio, analisando as negociações entre os indígenas e os franceses, conferindo ênfase às agências dos primeiros, demonstrando, por meio da leitura de crônicas de viagens, como os nativos, por seus saberes, eram atores de suas próprias histórias e não apenas subjugados pelas ações dos europeus. A análise das narrativas visibiliza que a empresa francesa se manteve, mesmo que breve, em virtude da colaboração dos Tupinambá e na permanência de alguns elementos da cultura indígena, entre eles o parlamento/assembleias e os enlaces matrimoniais que davam acesso ao trabalho feminino. E ainda, que os nativos não aceitaram passivamente a imposição unilateral de um novo modo de vida, estiveram conscientes de que os portugueses eram inimigos dos franceses, e desse modo, criaram estratégias que impôs limites ao projeto colonial dos parisienses.
Este artigo tem por finalidade discutir e caracterizar a cultura material presente nas crônicas de Yves D’Évreux e Claude D’Abbeville, relacionando-a com o meio ambiente e com as estratégias de adaptação que estes utilizavam para obter os meios necessários à sobrevivência, também discute como este processo foi operacionalizado dentro da economia indígena. Dessa forma, inicialmente mostra-se como se deu o contato dos franceses com os nativos da Ilha do Maranhão, posteriormente elenca-se sua cultura material e a associa com o meio ambiente, para inferir como os artefatos foram produzidos a serviço de atender uma economia de subsistência que estava ecologicamente bem adaptada e que atendia, portanto, aos interesses produtivos naturais dos Tupinambá.
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