Ao esboroar a dicotomia individualismo-coletivismo, a anarquista Emma Goldman vislumbra um tipo de insurgência contra a iniquidade que prescinde das armas e confere azo à palavra. O escopo deste ensaio é analisar como Emma Goldman alinha proletários e intelectuais em uma urdidura orgânica, resgatando elementos da literatura romântica e realista para ser intérprete internacionalista da emancipação de uma individualidade humana. A literatura radical ocuparia, assim, um papel de intérprete entre o gesto de singularização da pessoa artista, lume para sensibilizar a maioria trabalhadora, e a solidariedade proletária que seria fagulha para a revolução.
O feminismo antipredicativo de Emma Goldman incita ao cotejo de seu prisma anarquista com o de uma filosofia de ontologia radical, uma transversalidade que resgata a matriz do ideário anarquista, a saber: o indivíduo. A partir do presente artigo, pretende-se realizar um diálogo entre o conceito de “individualidade humana” propugnado por Goldman e os ideários de Max Stirner e Henrik Ibsen, leituras de cabeceira da autora. A filosofia stirneriana, ao rechaçar as mediações externas, contribuiria para a valorização do “eu” enquanto bastião da revolta contra as instituições hegemônicas, ao passo que o teatro social moderno ibseniano estimularia a anarquista a entrever na arte um instrumento de consciência voltada à autonomia da mulher, a qual passaria a questionar sua objetificação e a se autogovernar enquanto ser humano. O devir, que imprimiria a marca de incongruência em relação a quaisquer modelos programáticos de insurgência, se consubstanciaria em um feminismo antipredicativo crivado pela filosofia e teatro dessubjetivadores/subjetivadores.
RESUMOA pesquisa tem como escopo delinear uma genealogia acerca de pautas levantadas pela anarquista Emma Goldman (1869Goldman ( -1940, perscrutando-se de que forma ela se apropria de um gesto filosófico radical e de um fazer artístico sintetizado em textos dramatúrgicos para propalar a concepção de "individualidade humana".Trata-se de um conceito-chave para compreender em que medida seu pensamento heterodoxo contemplava um prisma filosófico e artístico que teria como corolário um gesto político autônomo em relação às instituições hegemônicas. A leitura goldmaniana do "egoísmo" de Max Stirner (1806-1856) e da demolição dos deveres sociais encenada pelo teatro de Henrik Ibsen (1828 emerge em muitos ensaios que propugnam a necessidade de uma revolta individual como impulsionadora de uma revolução entranhada no próprio cotidiano. Nesse diapasão, Emma Goldman será lida não somente como mulher anarquista, mas como publicadora, artista e educadora que se alinhou à vida imanente.
Para Emma Goldman, “um novo amanhecer” era a utopia realizável no cotidiano, no ensejo que cada nova narrativa vicejante trazia em sua trama. A literatura, para essa anarquista, seria concomitantemente diagnosticadora e articuladora. O diagnóstico que cada artista aportava seria como uma antena sensível às mazelas sociais. A articulação que a cultura anarquista costurava a partir dos gestos artísticos tinha o papel de comunicar e espraiar em redes a consciência de si despertada pelas obras. O presente ensaio buscará mapear o papel de intérprete atribuído por Goldman a textos literários que espelham a vida e sacodem a letargia enfrentada pelas individualidades em um contexto de automatização e institucionalização das relações humanas.
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