Neste texto, a Guerra Guaranítica é examinada à luz da ferramenta conceitual do middle ground, formulada por Richard White. Busca-se averiguar alguns dos fatores elementares para a existência de uma zona de inteligibilidade comum entre as distintas sociedades em interação, com destaque para o frágil equilíbrio de forças entre elas. Esse exercício teórico foi realizado a partir da análise de relatos coevos e da interlocução com estudos amparados em sólidas bases empíricas, dos quais foi possível explorar as fontes transcritas e/ou os incidentes narrados e interpretados pelos autores. A título de conclusão, compreende-se que individualmente as sociedades ibéricas no Prata não reuniam condições de subjugar os guaranis missioneiros envolvidos no conflito; que a temporária aliança bélica dos ibéricos promoveu uma ruptura efêmera do equilíbrio de poder na região, e que o modo como os integrantes de cada exército ibérico se comportaram com respeito aos códigos da cultura de contato condicionou as relações entre as frentes coloniais hispânica e portuguesa com os guaranis durante o restante do século XVIII.
Resumo Richard White é professor emérito de história americana, Cátedra Margaret Byrne, da Universidade de Stanford (Califórnia - EUA). Ele notabilizou-se em 1991 quando publicou The Middle Ground: Indians, Empires, and Republics in the Great Lakes Region, 1650-1815, o qual causou expressivo impacto na historiografia estadunidense sobre a história dos povos indígenas e dos contatos coloniais. A sofisticada elaboração conceitual contida no livro forjou um novo arcabouço teórico para a interpretação das interações entre comunidades nativas e sociedades colonizadoras / expansionistas / imperiais. Esse referencial teórico passou a ser operado por historiadores em distintas eras históricas, regiões do globo terrestre e relações sociais, políticas, econômicas e culturais. O conceito também foi apropriado por estudiosos de outras disciplinas como a Crítica Literária, Antropologia, Arqueologia e Ciência Política. White foi duas vezes finalista do prêmio Pulitzer de História, em 1992 por The Middle Ground e em 2012 por Railroaded: the transcontinentals and the making of modern America. Nesta entrevista, realizada no ano em que The Middle Ground completa 30 anos de sua primeira edição, entre outras coisas, ele responde a perguntas sobre suas influências intelectuais no início da carreira, suas inspirações para elaborar a ferramenta conceitual do middle ground, seus projetos atuais e futuros e sobre as questões fundamentais que orientam suas pesquisas.
Nas primeiras três décadas do século XIX uma complexa trama histórica mergulhou a região platina num contexto de endemia bélica que provocou a decadência demográfica do complexo guaranítico-missioneiro. A partir do tratamento serial dos assentos de batismos da Matriz de São Francisco de Borja e de informações censitárias coevas, analiso como se desenrolou este processo nas sete reduções orientais do rio Uruguai que em 1801 passaram a integrar a jurisdição portuguesa. A interlocução com estudos populacionais sobre comunidades missioneiras situadas em outras áreas da América permite perceber o quão sólida era e estrutura populacional guaranítica e o profundo impacto sofrido no primeiro terço do Oitocentos.
O arcabouço analítico da etnogênese surgiu e se consolidou nas últimas cinco décadas por meio de um profícuo diálogo entre antropologia e história. As investigações oriundas dessa abordagem questionaram as interpretações que percebiam povos indígenas como portadores de uma essência de indianidade que acabavam perdendo em processos de aculturação em virtude do avanço colonial europeu. De modo geral, a perspectiva conceitual da etnogênese procura conciliar a relatividade das categorias analíticas, o caráter processual de formação e desaparecimento das identidades sociais, a historicidade das sociedades investigadas e identificar as tensões explícitas e implícitas na esfera das relações de dominação.
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