Trata-se de um estudo do vocabulário da ditadura militar em nove panfletos escritos por Eulálio Motta, no período de 1960 a 1970. Este corpus é um recorte de uma pesquisa maior que permitiu inventariar um diversificado vocabulário que o escritor fez uso para difundir suas ideias na região de Mundo Novo, Bahia. Eulálio Motta foi responsável pela produção, circulação e recepção de seus panfletos, textos lidos em praças públicas, nas vilas e fazendas, alcançando centenas de pessoas. Por meio de sua ação panfletária e da utilização de um vocabulário que situa ideologicamente um discurso em favor do regime, Eulálio Motta difundiu uma imagem da ditadura militar na região de Mundo Novo. O estudo lexicológico que ora apresentamos concentra-se no vocabulário da ditadura e está subsidiado na teoria de estruturação dos campos lexicais, fundamentada em Stephen Ullmann (1973 [1964]), Pierre Guiraud (1989 [1969]), Horst Geckeler (1976), Mario Vilela (1979; 1995) e, principalmente, Eugenio Coseriu (1964a; 1964b; 1967; 1973; 1976). Tal abordagem permitiu observar como Eulálio Motta incorporou novas lexias e excluiu ou ressemantizou outras em seus usos linguísticos, motivado por interesses diversos. Além disso, possibilitou o conhecimento de costumes e valores socioculturais do povo sertanejo, expresso em seus usos linguísticos.
Com o crescente desenvolvimento das tecnologias computacionais, várias ferramentas estão disponíveis com o intuito de facilitar a construção de obras lexicográficas (dicionários, vocabulários, glossários etc.). Neste trabalho, objetiva-se descrever a funcionalidade e as etapas de aplicação de dois programas utilizados para a construção do Vocabulário do escritor baiano Eulálio de Miranda Motta: o AntConc, para a análise do corpus, e o Fieldworks Language Explorer (FLEx), para a organização do banco de dados e a edição dos verbetes. Adotou-se como base os princípios teórico-metodológicos da Lexicografia moderna (BIDERMAN, 1978; 1984; 2001; HAENSCH, 1982; WERNER, 1982; VILELA, 1983; 1995; PORTO DAPENA, 2002, entre outros) e da Linguística de corpus (BEBER SARDINHA, 2004; OTHERO; MENUZZI, 2005). Delimitou-se como corpus desta pesquisa 215 textos em prosa, escritos em vida ou publicados postumamente, sendo: 36 textos publicados na coluna Rabiscos do jornal Mundo Novo (1931 a 1932, Mundo Novo-BA); 17 textos publicados no jornal O Lidador (1933 a 1935, Jacobina-BA); 45 textos publicados no jornal O Serrinhense (1950 a 1951, Serrinha-BA); 24 textos publicados no jornal Gazeta do Povo (1960-1961, Feira de Santana-BA); 43 panfletos escritos de 1949 a 1983 (BARREIROS, P., 2015) e 50 causos que compõem Bahia Humorística, escritos de 1933 a 1934 (BARREIROS, L., 2016). Entende-se que essa seleção de 215 textos atende aos diversos suportes utilizados por Eulálio Motta para veiculação e divulgação de seus escritos, possibilitando inventariar o vocabulário usado pelo escritor durante um período de mais de 50 anos (de 1931 a 1983). O Vocabulário produzido é composto por 700 entradas, organizadas de A a Z, sendo 513 lexias simples, 35 lexias compostas e 152 lexias complexas (POTTIER, 1977), e tem como finalidade contribuir para a preservação de costumes e valores culturais do homem sertanejo, expresso no uso da língua.
As múltiplas faces dos acervos de escritores têm desafiado os pesquisadores a explorarem novos caminhos metodológicos, com o objetivo de dar conta da variedade de documentos e seus significados. O acervo do escritor baiano Eulálio Motta (1907-1988), por exemplo, apresenta uma diversidade de documentos que compreendem desde a sua produção literária até objetos pessoais. Esses documentos fazem parte de uma teia de fios complexos que transcendem os limites do acervo e ampliam seus significados. A leitura desse acervo possibilita reconstruir a história de vida do escritor e da sua obra, mas para isso é preciso compreender os fios que unem os documentos. Por conta disso, Barreiros (2016) propôs a construção de um dossiê arquivístico, visando a análise integrada dos documentos do acervo de Eulálio Motta. O estudo que ora apresentamos consiste na elaboração do dossiê arquivístico para a hiperedição de dois textos de Eulálio Motta: Mania, publicado no jornal Mundo Novo e o rascunho de uma carta para Eudaldo Lima, escrito no caderno Farmácia São José. As discussões apresentadas fundamentam-se nas discussões de Barreiros (2014, 2015, 2016), Bordini (2005, 2009), Telles (2006), sobre acervos de escritores, e em Barreiros; Santiago, I.; Santiago, S. (2017) e Deleuze; Guattari (1995), no que concerne ao método rizomático de pesquisa.
O presente artigo tem por objetivo apresentar os itinerários do escritor baiano Eulálio de Miranda Motta (1907-1988) pelas tipografias do sertão baiano, com o intuito de socializar suas publicações, difundir a obra do escritor e as atividades realizada no âmbito do Projeto de Pesquisa Edição das obras inéditas de Eulálio Motta (Resolução UEFS/CONSEPE 070/2016; CNPq; FAPESB). O acervo do escritor está alocado na Universidade Estadual de Feira de Santana e é composto, principalmente, de documentos arquivados por ele, relacionados a sua vida pessoal, profissional e literária. A diversidade de manuscritos éditos e inéditos preservados tem permitido a produção de vários estudos acadêmicos, em diferentes perspectivas teóricas. Após o estudo sistemático do acervo do escritor, foi possível identificar três pseudônimos de maior recorrência, Liota, Braz Cubas e João Ninguém, utilizados por Eulálio Motta em quatro periódicos baianos: jornal Mundo Novo (1931 a 1932, Mundo Novo-BA); jornal O Lidador (1933 a 1935, Jacobina-BA); jornal O Serrinhense (1950 a 1951, Serrinha-BA); e jornal Gazeta do Povo (1960-1961, Feira de Santana-BA). Esses pseudônimos revelam os diferentes perfis que o escritor assumia diante do seu público, de acordo com o tema que abordava. Nesse trabalho, descreve-se a sociohistória dos textos de Eulálio Motta e o percurso do escritor, enquanto poeta, jornalista, panfletário e cronista, situando quem é o sujeito-autor, o que conta, para quem conta, quem são seus interlocutores, os cenários da sua escrita e o processo de recolha dos textos na comunidade como registro da memória local.
Eulálio Motta (1907-1988) arquivou, durante a sua vida, uma grande quantidade de documentos pessoais. Essa documentação é bastante diversificada e demonstra um grande potencial para estudos linguísticos. No projeto Edição das obras inéditas de Eulálio Motta, busca-se editar todos esses documentos para preservá-los e transformá-los em dados confiáveis para pesquisa. Assim, recorre-se à filologia para realizar a transcrição desse material, bem como à linguística de corpus para a análise automática dos dados. Nesse artigo, apresenta-se os procedimentos utilizados no acervo do escritor Eulálio Motta, tendo em vistas o preparo da documentação para o estudo linguístico.
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