viii encontros face a face, sinaliza-se a necessidade de questionar a mortalidade e a imortalidade como pares antitéticos tributários de noções de alteridade próprias da dicotomia sujeito / objeto. Assim, a partir do discurso paradoxal de Aristides sobre suas experiências, o qual reatualiza antigas perspectivas sobre os limites entre deuses e homens como flexíveis, contestáveis e, até mesmo, apenas virtualmente existentes, defendemos uma abordagem da mortalidade e da imortalidade como pares incomensuráveis os quais, nos Hieroì Lógoi, constituem o Eu. Essa abordagem nos permite pensar mortalidade imortalidade como expressão particular de uma dimensão de trato, tomada e ocupação do Eu anterior, nãotributária e não-fundadora de um saber sistematizado das relações de alteridade. Os Hieroì Lógoi apresentam-se, portanto, como materialidade narrativa das possibilidades-Eu emergidas no sonho e na devoção de um homem do segundo século de nossa Era.
O santuário de Asclépio em Pérgamo, na Ásia Menor, foi, no século II E.C., destino de viajantes das mais diversas regiões do Império Romano e que, ali, desfrutavam de práticas que iam além das necessidades e objetivos devocionais e medicinais. A partir de uma ampla reforma ocorrida após uma visita de Adriano à cidade, as estruturas arquitetônicas, os modelos estéticos e as representações figurativas no interior do Asclepeion inspiram uma profunda identificação entre as tradições pergamenas e Roma. Mais ainda, a variedade de experiências vividas no santuário promovia oportunidades à reconstrução das identidades e relações dos próprios visitantes. Neste artigo, discutimos como os usos do Asclepeion no século II E.C. o distinguiam como um lugar que excedia identidades, espacialidades e temporalidades.
Nos primeiros séculos da Era Comum, as relações de identidade e alteridade constituintes do si-mesmo tinham como um de seus parâmetros a dicotomia entre mortalidade e imortalidade. Sob este ponto de vista, elas dependeram de dois movimentos paralelos e em diálogo: a concepção da natureza divina da alma e dos sonhos como espaço de comunicação com os deuses. Os Hieroi Logoi de Aristides sinalizam, por sua vez, um poderoso cruzamento das duas perspectivas ao abrir espaço à possibilidade de identificação, por parte de um mortal, com a divindade.
Neste artigo apresentamos um panorama do desenvolvimento da ideia de matriarcado pré-histórico desde sua formulação pelo classicista Johann Bachofen no século XIX até sua transformação, no século XX, por uma nova ênfase na proposição de uma ‘Grande Deusa’ pré-histórica. Refletimos sobre as ideias de História nela envolvidas, em especial quanto ao contraste entre uma Pré-História dinâmica, complexa e ao longo de sua própria temporalidade eivada de conflitos e transformações, como em Bachofen, e formulações em sentido oposto, encontradas em autoras como Jane Harrison, Jacquetta Hawkes e Marija Gimbutas. Além disso, consideramos as críticas acadêmicas e políticas conduzidas contra a hipótese.
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