O presente artigo intenta apresentar alguns aspectos de duas passagens da recepção do conto “Pai Contra Mãe” de Machado de Assis, incluído no volume Relíquias de Casa Velha (1906). Em um primeiro momento, é revisitada a fortuna crítica para pensar o saldo de leituras recentes acerca do conto, reavaliado por seu viés de denúncia contra as mazelas da escravidão (BOSI, 1999; DUARTE, 2008; MANGUEIRA, 2010; SCARPELLI, 2013). Por outro, espera-se reintroduzir ao público atual as discussões que os contemporâneos de Machado travaram acerca do referido conto, em especial a partir da análise pontual de um comentarista pouco conhecido, o jurista e historiador da escravidão Evaristo de Moraes (1917). A partir da comparação de ambas as recepções, espera-se confrontá-las para notar o que há de semelhança ou de diferença reversível entre elas e assim, abrir espaço para uma leitura dialética do conto (e mais especificamente de seu desfecho) mais interessada na representação da ideologia do leitor do que, como costumeiramente se tem feito, desvelar a ideologia (ou contra-ideologia) do narrador.
Agradeço ao CNPq que financiou o trabalho por completo. Aos funcionários da Biblioteca do IEB e da Biblioteca Nacional, pela paciência reiterada em me receber para fuçar velharias. À Cilaine Alves Cunha pelas valiosas críticas no momento da qualificação. A Joaci Pereira Furtado pela amizade, auxílio nas horas imprevisíveis, além do ouvido confidente para as milongas da vida universitária.
Exceto onde especificado diferentemente, a matéria publicada neste periódico é licenciada sob forma de uma licença Creative Commons -Atribuição 4. ABSTRACT: This paper deals with the relation between public and writing in the invention of O desertor of Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814), through the imitation of rhetorical models of long duration that compete at the moment of writing of the poem during the patronage of Pombal. Thus, it is proposed that against certain orthodoxy of the art doctrines of a Cândido Lusitano, Alvarenga produces threads of obscurity in his heroiccomic poem which, by its mixed nature, also speaks to a mixed public (the specialized academic environment in which the work was developed, and the broad one, idealized by the Pombaline civilizational project).
O artigo visa propor alguns pontos de referência para compreender a singularidade do Realismo como parte integrante da literatura moderna e desatrelado do suposto imperativo de representação do real – tão criticado por vanguardas e teorias do século XX. Para tanto, partimos de uma contraposição entre, de um lado, a leitura auerbachiana de Stendhal e, de outro, a lógica antiga do decoro e o que esta previa como os possíveis da representação literária – a observância de sedes argumentativas que, mesmo onde os gêneros se misturam, mantém intacta uma ordem do discurso que guarda forte analogia com uma partilha de lugares sociais. Contra esse fundo, o novo que emerge no discurso realista aparece como o que Rancière denomina “revolução estética”: uma implosão da lógica hierárquica da representação em nome de um regime em que o real adentra o relato literário sem o apoio de sedes previstas. A desierarquização posta em jogo pelo regime estético é uma glória do qualquer, segundo a qual não só o os homens mais infames (como propõe Foucault) podem sentir e falar como os reis da tragédia, como também o detalhe mais anódino pode guardar em si a significação da obra. A partir disso, propomos uma análise do conto A obra prima ignorada, de Balzac, enquanto figuração privilegiada tanto dos riscos e excessos possíveis das vanguardas por vir, como da vida infame que visa representar o relato realista.
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