Resumo: O presente estudo analisa algumas questões históricas e filosóficas envolvidas na écloga II ("Jano e Franco") de Bernardim Ribeiro, incluída na sua editio princeps publicada em 1554, em Ferrara, por iniciativa de Abraão Usque, judeu português exilado na Itália. Até o séc. XIX, as éclogas tinham sido vistas como poesia de temática romanesca e amorosa, e apenas recentemente identificadas (juntamente com a Menina e moça, romance pastoril do mesmo autor) como obra de resistência judaica. Este trabalho pretende identificar as éclogas de Bernardim Ribeiro, em especial a "Jano e Franco", com as obras consolatórias sefarditas tão em voga na Península Ibérica do séc. XVI, buscando sua identidade literária e política especialmente na Consolação às tribulações de Israel, de Samuel Usque, ou em livros referenciais da cabala, como o Zohar. Palavras-chave: Renascimento português; judaísmo; platonismo. Em 1554, o judeu português Abraão Usque, exilado em Ferrara, na Itália, dava à estampa, na sua então famosa oficina tipográfica, a edição princeps das obras de Bernardim Ribeiro, incluindo num mesmo volume a novela Menina e moça, cinco éclogas, outros poemas de Bernardim já publicados no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, e por fim, a écloga Crisfal (atribuída ao poeta Cristóvão Falcão), acompanhada de uma carta, e de "outras cousas que entre lendo se poderam ver", conforme