se fazendo presente apenas por meio de operações policiais pontuais, não raramente caracterizadas pelo uso abusivo e desproporcional da força. Embora produzindo efeitos restritos e de curtíssimo prazo, esse tipo de estratégia vem sendo dominante nas últimas décadas em quase todo país, pouco contribuindo para quebrar o extenso domínio que os grupos criminosos locais mantêm sobre amplas parcelas do território das favelas.O confronto através de escaramuças, realizado de forma pontual, descontinuada e sem a complementaridade de outros tipos de ação, sempre se mostrou extremamente ineficaz. Produziu um número elevadíssimo de vítimas, inclusive entre a população civil dessas localidades, contribuindo para a consolidação de um forte sentimento de hostilidade e ressentimento em relação às forças policiais dentro das comunidades pobres brasileiras. Do próprio ponto de vista da retomada do controle territorial por parte do Estado, esse tipo de iniciati-
IntroduçãoDesde o início dos anos de 1990, diversos estudos têm se dedicado a discutir os fenômenos da criminalidade e da violência ligados à atuação de gangues ou grupos armados ilegais que atuam em vilas, favelas e bairros pobres de periferia dos grandes centros urbanos brasileiros
O presente artigo apresenta uma análise empírica de duas experiências de “fazer investigativo” colocadas em prática pela Polícia Civil de Minas Gerais nos últimos anos para apurar crimes de homicídio. A partir de trabalhos de campo realizados em duas delegacias especializadas de investigação de crimes contra a vida, foi possível compreender como a própria instituição policial, no cotidiano do que chamamos de seu “fazer investigativo”, contorna, reinterpreta, tensiona (e ocasionalmente rompe) limites normativos tradicionalmente impostos, tanto a ela quanto às suas funções, por dimensões culturais, estruturais e institucionais-legais vigentes.
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