São delineadas, neste artigo, algumas reflexões sobre a natureza multiface da formação de palavras, fenômeno semântico-(morfo)lexical que se estrutura como uma rede de conexões entre praticamente todos os níveis/âmbitos da língua, o que sinaliza a sua pertinência como objeto investigativo (primordial ou tangencial) para diversos campos dos estudos sobre a realidade linguística, notadamente os de ordem lexicológica e morfológica. Com ênfase no fenômeno da prefixação — e adotando como bússolas teórico-epistemológicas gerais alguns princípios da teoria da complexidade (CAPRA, 1997; MORIN, 2003; ECO, 2013), do pensamento sistêmico (KASPER, 2000; VASCONCELLOS, 2002) e da abordagem multissistêmica da linguagem (CASTILHO, 2002, 2003, 2007, 2009, 2010, 2011; MÓDOLO; BRAGA, 2012) —, buscar-se-á deslindar formas de contato entre a lexicogênese de cariz morfológico e os fluxos de gramaticalização, a sintaxe (articulação de cláusulas), perpassando por interconexões estabelecidas com a filologia.
Este artigo incide sobre a semanticidade (ou assemanticidade) dos elementos prefixais, com o delineamento de uma proposta tipológica de categorias a respeito, configuradora de um <em>continuum</em> morfossemântico, sensível a aspectos histórico-diacrônicos. Tal escala abarcaria pelo menos quatro tipos de formativos, numa gradiência que iria de um maior semanticismo até um desbotamento, indeterminação ou ausência de tal propriedade. Além do estabelecimento dessa tipologia tétrade, traz também o artigo uma proposta de classificação dos prefixos prototípicos (semantizados), com base na apreciação de dados empíricos do português e na revisitação à literatura morfológica. O estudo finca-se em pautas da morfologia descritiva, assumindo também princípios da linguística cognitiva, como a não-modularidade, a escalaridade e a interfacialidade entre estruturas, fenômenos e operações constitutivos da língua.
Resumo: O estudo ora apresentado presta-se a descrever a trajetória da família lexical de usura (constituída pelas formas usura, usurar, usurário, usureiro, usurável, usurento, usuroso, usurador, zura, zuraco e usurariamente) no percurso histórico da língua portuguesa. Para a constituição de seu corpus de análise e como embasamento para a explicação dos processos de empréstimo e neologia em abordagem histórico-diacrônica e histórico-comparativa, fincou-se na integração de dados dialetais e de publicações da web com uma grande variedade de bancos de dados em diversas línguas românicas e em inglês. Faz o exame etimológico desse grupo vocabular pela análise gradual das transformações semânticas e morfológicas de cada unidade que o constitui, fornecendo evidência textual dos fenômenos discutidos. Definindo-se em um eixo interfacial entre Morfologia, Semântica e Léxico, o trabalho incorpora ao quadro descritivo resultante considerações sobre formação de palavras, sinonímia corradical, sinmorfismo e variação e mudança morfolexicais. Palavras-chave: família lexical; etimologia; morfologia histórica; semântica histórica.
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