O artigo toma a questão do suicídio na obra de Freud como um problema de pesquisa que interroga certos pontos de sua metapsicologia: a possibilidade de uma tendência à autodestruição, o papel do eu e, finalmente, a dimensão do objeto que estaria implicada. É em relação a este último, em particular a seu estatuto na articulação que Freud propõe entre suicídio e melancolia, que o trabalho de Lacan em torno do objeto a, associado à passagem ao ato e à melancolia no Seminário, livro 10 - A angústia (1962-1963/2005), figura, no artigo, como um acréscimo à investigação iniciada por Freud. Essa referência lacaniana permitirá destacar a presença fulgurante do objeto a no momento da passagem ao ato suicida, estabelecendo uma articulação com a identificação melancólica descrita por Freud em seu "Luto e melancolia" (1917 [1915]/1969). A essa identificação absoluta ao objeto em questão é correlata a ausência de um sujeito e a ruptura mais radical em relação ao Outro.
Este artigo parte da articulação entre o Discurso do Capitalismo e os progressos da tecnicização da ciência como engrenagem de efeitos de segregação que teriam como consequência a produção de um indivíduo eficaz. A formulação dessa questão tem por objetivo geral conceituar o estatuto de abolição da divisão do sujeito viabilizada pelos efeitos de segregação. Recorre-se ao ensino de Lacan, no período do final da década de 1970, apontando a substancialização e a articulação da noção de efeitos de segregação enquanto processo subsidiado tanto pelos progressos científicos quanto por uma lógica mercadológica. Sustenta-se que este aporte possa ser aferido no ensino de Lacan por meio da formalização do discurso do capitalismo. Dessa maneira, a articulação entre o discurso do capitalismo e os progressos da tecnicização da ciência promove, por meio dos efeitos de segregação, a abolição da divisão em um processo de acoplagem entre sujeito e objeto de gozo. É desde a abolição da divisão que se produziria um indivíduo eficaz, categoria derivada dos efeitos de segregação e caracterizada por sua disponibilidade ao consumo e docilidade às métricas avaliativas.
O suicídio amoroso: uma proposição metapsicológica ResumoA escuta de orientação psicanalítica àquele que relata uma tentativa de suicídio e a remete à ruptura de um relacionamento amoroso permite uma reflexão de cunho metapsicológico que sustente que a quebra do vínculo amoroso é recusada de tal forma que a precipitação suicida nisso se insira, a fim de manter algo que não pode ser perdido. Tomando a melancolia como paradigma para o suicídio, aponta-se uma recusa a partir da manutenção do amor. A assertiva freudiana de que o eu consente com a própria morte quando identificado ao objeto é passível de articulação com as proposições de Lacan acerca de objeto de amor e o que transcende seus atributos. Acentuaremos como objeto a aquilo que está sob o invólucro amoroso e como este perfila, de forma fulgurante, na tentativa de suicídio.Palavras-chave: Suicídio. Psicanálise. Amor. Melancolia. AbstractThe psychoanalytical orientation listening to the one who reports a suicide attempt and refers it to a love relationship breaking up, allows a reflection of a metapsychological nature which supports that the rupture of a love bond is refused at such a level that the suicide precipitation has its inspirations in order to keep something that cannot be lost. Having melancholy as a paradigm to the suicide, it points to a refusal based on the maintenance of love. Freud's assertive that the ego consents with its own death when identified to the object is liable of articulation with Lacan's propositions about the object of love and to which transcends its own attributes. It will be stressed as object "a" the one which is underneath the loving involucre and how it profiles in an effulgent way to the suicide attempt.
ResumoNeste artigo teórico temos como objetivo o apuramento do caráter paradigmático do conceito freudiano de melancolia em relação ao suicídio. Iniciaremos este trajeto recorrendo aos primeiros escritos de Freud e procuraremos circunscrever a relevância de uma perda peculiar na melancolia (1895/1996). Seguiremos pelos trabalhos dedicados à metapsicologia em que o tema da melancolia (1917[1915]/1996) é articulado ao suicídio por meio da proposição de que o eu apenas se mata desde que identificado ao objeto perdido. A partir deste respaldo, será possível questionar a passagem ao ato suicida como o extremo da recusa ao efêmero. Sendo o inconsciente incapaz de executar o ato de se matar, a recusa coloca em evidência um rechaço do inconsciente. Sustentaremos, a partir do ensino de Lacan (1962-63/2005) que a passagem ao ato suicida se estrutura como um rechaço que tem no triunfo do objeto a um momento no qual o sujeito é suprimido e identificado ao que é irredutível ao significante. Palavras-chave: Melancolia; Suicídio; Psicanálise; Freud AbstractIn this theoretical article, we aim to establish the paradigmatic character of the melancholia's freudian concept in relation to suicide. We shall begin this journey by recourse to Freud's early writings and attempt to circumscribe the relevance of a peculiar loss in melancholia (1895/1996). We will proceed through the works dedicated to metapsychology in which the theme of melancholia (1917[1915]/1996) is articulated to suicide by means of the proposition that the ego only kills itself since identified to the lost object. From this support, it will be possible to question the passage to the suicidal act as the extreme of the refusal to the ephemeral. Since the unconscious is incapable of executing the act of killing itself, the refusal puts in evidence a rejection of the unconscious. From the Lacan's teaching (1962-63/2005), we will argue that the passage to the suicide act structures itself as a rejection that has in the triumph of the object a T the moment in which the subject is suppressed and identified with what is irreducible to the signifier.
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