Para refletir sobre a relação entre escrita e sexualidade pela perspectiva de Pasolini, o presente artigo abordará as resenhas literárias publicadas pelo autor e reunidas postumamente no volume Descrizioni di descrizioni, passando também por suas outras produções, como o romance Petrolio e o filme Salò ou 120 dias de Sodoma. Valendo-se da ideia de que toda crítica é um ato obsceno, a intenção principal é pensar como o processo de escrita implica simultaneamente um gesto de criação e de destruição.
Resumo:No texto procura-se comentar a natureza do conceito de literatura em autores modernos italianos, a partir de reflexões sobre a obra de Pier Paolo Pasolini e Italo Calvino. São também sondadas as inter-relações nessas obras entre gêneros 'menores', autobiografia, fragmento e literatura e história. Contrariamente a uma perspectiva crítica que defende a ideia de que o século XX teria tido uma literatura pura em contraposição a uma literatura impura, evidenciam-se os outros caminhos e as outras propostas para o que é considerado como literário na obra desses dois grandes autores do período. Através de operações que privilegiaram o fragmento, o inacabado, as anotações e a releitura, ambos redimensionam o que é menor no campo literário. Através de operações editoriais que definiram e deram forma à própria obra, ambos afirmaram projetos em que o autobiográfico -coral e transbordante, no caso de Pasolini, transparente ou, por vezes, densamente metafórico, no caso de Calvinoocupa espaço relevante. Palavras-chaves: Italo Calvino. Pasolini. Literatura e fragmento. Literatura e autobiografia. Literatura e história.Lendo um dos livros do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, me deparo com a seguinte reflexão sobre a literatura italiana: (...) o diário de Pavese pertencia a um período da cultura mundial no qual se costumava integrar a experiência existencial com a ética da história. Um período ao qual o suicídio de Pavese parece marcar um limite cronológico. E também me disse que se o diário de Pavese estava tragicamente ancorado na vida, o de Gide e o de Gombrowicz -mais próximos da minha sensibilidade -o estavam na literatura, que é um mundo autônomo, uma realidade própria, não tem nenhum contato com a realidade porque é uma realidade em si mesma, uma opinião pessoal minha com a qual seguramente Pavese não estaria de acordo (VILA-MATAS, 2005, p. 181). Nessas observações, escritas por um autor para o qual as fronteiras entre a reflexão crítica e a produção ficcional são partes integrantes, ou melhor, constituintes, de seus 'romances', encontro algumas das mais interessantes questões dos estudos literários como a * É professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Departamento de Teoria Literária), Livre Docente na área de Literatura Comparada. E-mail: betamor@uol.com.br Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2025 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.