de poime ntos • p. 010-02 6 sobre o período mais recente. Sua morte violenta e prematura, 27 de julho de 2008, pegou-nos de surpresa e não permitiu que esse projeto se realizasse. Nesta entrevista ele expõe suas idéias e fica evidente seu compromisso com a formação do arquiteto urbanista. Polêmico muitas vezes, ele procurava afirmar, de forma contundente, seu ponto de vista sobre o que considerava ser a arquitetura e o urbanismo. Discutimos e discordamos várias vezes. Nesta entrevista, seu ponto de vista parece-me exposto com clareza e paixão, marca de todas as suas ações, que espero ter resguardado da forma o mais fiel possível. É a homenagem de uma colega de oficio. Joaquim Guedes: Deixe-me falar um pouco o que penso. Acredito que há uma gama muito grande de olhares sobre a cidade, os quais dão especializações, aprofundamentos, que têm a cidade como o centro, mas, no fundo, refletem preocupações, sensibilidades e possuem objetivo e capacidade operacional inteiramente distintos. Às vezes percebo-me discutindo muito isso, mais para demarcar campos e defender a necessidade de um aprofundamento de nosso campo, com cada vez menos gente. Por exemplo, em uma faculdade de arquitetura, considero hoje uma coisa, digamos assim, negativa, qualquer ênfase no conhecimento da numerologia das carências: falta esgoto, porque sempre falta, e esta exige um tão grande número de fatores, que não tem nada a ver com a arquitetura, e são preliminares, por exemplo: dinheiro, políticas, concepções de ação... muitas vezes envolvendo situações muito particulares, lutas locais que dão ênfase a uma coisa e não à outra... Isso vai da segurança, à falta de asfalto, à falta de escola, à densidade, ao congestionamento de tráfego... Tão amplo tudo isso, que qualquer ângulo que você pegue acaba estudando muito e sem necessidade. Aí, se a faculdade de arquitetura vai se preocupar com tudo isso, ela não faz nada. É isso que tenho sentido. Você sabe que trabalhei muito com cidade e tive muitas oportunidades, às vezes, de pensar a cidade a partir do zero. O sítio era muito mais do que zero em Caraíba 2 , por exemplo. O chão era tão horizontal, você não podia imaginar jamais de qual lado as águas corriam se chovesse, porque era uma mesa, caía para cá, vai para o lado contrário... Uma coisa terrível. Não tinha relevo, não era nada. Não só não tinha isso, como era uma coisa devastada, o calor, as rochas totalmente explodidas rolando em ambiente desolador. Recebi apenas os pontos em que havia as minas a serem exploradas, as minas de cobre, e uma relação de 1.181 empregos. A partir desses empregos e das características das atividades de cada emprego eu inferia, com alguma segurança, a origem dos empregados: Finlândia, Bahia, São Paulo, Chile, Canadá... e fui construindo a sociedade local de 20 mil pessoas. Tentando estabelecer algumas marcas de comportamento desses imigrantes no local, o impacto daquelas construções e como eles poderiam desenvolver atividades as quais demandassem espaço, relacionando uns com os outros. Passei um ano pensando a cidadezinha...