O Sistema Único de Saúde no Brasil propõe a operacionalização de ações de saúde ambiental e do trabalhador, com vistas a abordar a complexidade do processo saúde-doença nos territórios. Objetiva-se apresentar a pesquisa-ação como um percurso metodológico, facilitador da análise das complexas tramas do desenvolvimento econômico e as implicações no trabalho, ambiente e saúde, em comunidades do Nordeste brasileiro. A pesquisa-ação foi concebida com um grupo de 14 sujeitos e foi conduzida no formato de oficinas. Na feitura da pesquisa fluíram vínculos e elaboração de proposições, a partir da reflexão-teorização-ação dos sujeitos. Destaca-se que o método apresenta um potencial para desnudar problemas complexos relacionados à saúde ambiental e do trabalhador, pois favorece a interação humana integrada ao lugar em que vive.
Este estudo discute aspectos do desenvolvimento econômico e as implicações no trabalho, ambiente e saúde em comunidades circunvizinhas ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém no Ceará. Adotamos como estratégia metodológica a investigação qualitativa, realizando uma pesquisa participante, com análise documental e grupo focal. Os discursos dos sujeitos envolvidos no trabalho de campo foram analisados como representação de suas percepções acerca das transformações ocorridas no território e as repercussões sobre a saúde. Observamos nos resultados, que o uso e a apropriação do território, pelos empreendedores, se fundamentam na crença do progresso e do desenvolvimento, contradizendo com o modo de viver, produzir e interagir com a natureza, apresentado pela comunidade que tenta resistir a essa intervenção apoiada pelos movimentos sociais. Tais transformações estão em descompasso com o desenvolvimento de outras políticas públicas destinadas a mitigar os impactos, no que se refere à proteção ambiental desse território e à promoção da saúde dessa população.
Resumo Objetivo: compreender a percepção de trabalhadoras da pesca artesanal acerca dos riscos e agravos relacionados ao trabalho e das ações de promoção à saúde dirigidas a sua atividade produtiva. Métodos: pesquisa-ação com sete pescadoras e marisqueiras do rio Pacoti, em Eusébio, Ceará. A coleta de dados foi realizada no domicílio das trabalhadoras em 2019. As entrevistas foram gravadas, transcritas e seu conteúdo analisado por meio da análise de discurso. Resultados: as mulheres pescadoras têm baixa escolaridade e renda. Enfrentam condições de trabalho precárias em ambiente inóspito (manguezal). Relatam quedas, fraturas, ferimentos, afogamentos e sintomas de distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, porém não consideram que estejam expostas à riscos. Esses acidentes são vistos por elas como inerentes ao processo produtivo e os agravos à saúde não são percebidos como decorrentes do trabalho. Também não identificam ações de promoção de saúde dirigidas a elas. Conclusão: as situações relatadas e vivenciadas pelas trabalhadoras indicam que o serviço de saúde local ainda não atua a partir de uma visão de Saúde do Trabalhador. Há necessidade do Sistema Único de Saúde avançar na promoção da saúde, por meio de educação, vigilância e atenção em saúde com foco na prevenção de agravos relacionados à pesca artesanal.
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