O artigo define neoliberalismo como a construção política da sociedade de mercado, constituindo o modo de regulação ou o regime de governamentalidade predominante na fase atual do capitalismo. Historicamente, o neoliberalismo sempre esteve associado ao esvaziamento da democracia e a estratégias autoritárias. Após a crise de 2008, o neoliberalismo radicalizou suas medidas ao mesmo tempo em que aprofundou o recurso ao autoritarismo, estabelecendo uma diferença de grau que permite afirmar, seguindo a análise de Nancy Fraser (2017), a passagem de uma fase progressista que mantinha práticas autoritárias para uma fase propriamente autoritária do neoliberalismo. Por fim, o artigo busca compreender tal deslocamento de fase na crise da Nova República, admitindo a singularidade do processo de neoliberalização brasileiro. Esta singularidade se deve ao fato de que o neoliberalismo não substituiu completamente outras racionalidades políticas e projetos de regulação previamente existentes, mas se hibridizou com eles, reconfigurando a nossa constelação histórica específica.
O presente artigo tem como objetivo investigar uma dimensão particular de uma modalidade de carreira específica de pregação no interior do mercado pentecostal de pregações e testemunhos: a de “pregador-itinerante”. O “pregador-itinerante” vive do expediente de “dar seu testemunho” em igrejas e eventos, narrando episódios dramáticos de seu passado mundano e lutando por se inserir nas margens de um mercado religioso em expansão. Ao narrar sua história de vida pregressa, o “pregador-itinerante” a constrói como a dramatização de uma vida absolutamente nua, pura materialidade biológica, sem qualquer qualificativo ético-político. Partindo da análise do filósofo político Giorgio Agamben sobre os testemunhos dos sobreviventes dos campos de concentração nazistas, o presente artigo investiga como o testemunho do “pregador-itinerante” é elaborado em cima da exacerbação simbólica da “vida nua”, que se transforma em mercadoria a ser vendida no mercado religioso. Quanto mais “nua” a exposição da própria vida dilacerada, mais possibilidade de sedução e vida adquire.
Resumo: O presente artigo se baseia na premissa de que o processo de neoliberalização da sociedade brasileira não acontece apenas de cima para baixo, mas conjuga-se, de forma híbrida, com regimes governamentais que nasceram nas periferias: mundo do crime, o pentecostalismo e as milícias. Em sua fase autoritária, a partir da ascensão da extrema direita e da implementação do governo Bolsonaro, parte desses dispositivos governamentais passam a ocupar o centro do Estado. Ao focar no pentecostalismo, o texto propõe uma genealogia sobre a virada autoritária brasileira, buscando as afinidades entre o pentecostalismo e bolsonarismo, com base na análise do diagrama da guerra, na recusa da humilhação, na ética de retribuição e na emergência de um novo regime de verdade.
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