N os últimos tempos, grandes transformações marcaram o debate historiográfico, e muito poucos historiadores preservam a crença na capacidade da história de produzir um conhecimento inteiramente objetivo e recuperar a totalidade do passado. A objetividade das fontes escritas com que o historiador trabalha foi definitivamente posta em questão.A historiografia da Antiguidade clássica, como é sabido, recorreu aos testemunhos diretos na construção de seus relatos. Esse tipo de fonte foi desqualificado na segunda metade do século XIX, mas foi restaurado no século XX por historiadores que defendiam a validade do estudo do tempo presente. No entanto, a incorporação à disciplina histórica do estudo da história recente e do uso de fontes orais produzidas através da metodologia da história oral não é ponto pacífico: muitas vezes é vista com suspeição e avaliada de forma negativa.A proposta deste texto é discutir o porquê dessa situação. Para fazê-lo, nada melhor que lançar o olhar sobre a historiografia e observar como a história recente e as fontes orais foram encaradas por diferentes concepções da história, e o que levou, em cada caso, à desconfiança e à desqualificação de ambas pelos historiadores.
A emergência do ofício de historiador, a interdição da história recente e do uso de testemunhos diretosPor que, no século XIX, a história recente, então chamada de contemporânea, tornou-se um objeto problemático? O ponto de partida para entender esse processo é a constatação do triunfo de uma determinada definição da história, a partir da institucionalização da própria história como disciplina universitária. Essa definição, fundada sobre uma ruptura entre o passado e presente, atribuía à história a interpretação do passado e susTopoi, Rio de Janeiro, dezembro 2002, pp. 314-332.
Brasil dois mil: um exercício de profecia Roberto DaMatta 23 2. Avaliações e tendências da história oral Desafios à história oral do século XXI Philippe Joutard Aos cinquenta anos: uma perspectiva internacional da história oral Alistair Thomson Memória e diálogo: desafios da história oral para a ideologia do século XXI Alessandro Portelli 67 Desafios do transculturalismo Selma Leydesdorff.
Notas iniciais sobre a história do tempo presente e a historiografia no Brasil Resumo A proposta deste texto é apresentar algumas considerações iniciais acerca da introdução e legitimação da história do tempo presente no Brasil, buscando uma articulação com os diferentes contextos historiográficos que dificultaram sua afirmação ou, ao contrário, que funcionaram como estímulo para seu desenvolvimento. O ponto central do nosso argumento é destacar que, diferentemente de outros países, a história oral foi um elemento fundamental para estimular e garantir a afirmação, no Brasil, da história do tempo presente, numa primeira fase, enquanto um conceito que promove uma reflexão sobre seu estatuto, seus marcos cronológicos e sua relação com as demandas sociais. Um segundo ponto é assinalar a relação da instalação da Comissão da Verdade e da Lei de Acesso à Informação como responsáveis por imprimir uma nova dinâmica para as pesquisas da história do tempo presente.
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