Resumo: Neste ensaio, tenho como objetivo discutir as implicações políticas da cultura material no que concerne às relações de gênero. Tendo como principal referência o pensamento de Judith Butler, as reflexões apresentadas no texto buscam problematizar como os valores objetificados nos artefatos cotidianos contribuem para a naturalização de diferenças que justificam desigualdades. Implicados na afirmação de binarismos de gênero, os artefatos podem servir como recursos materiais para a constituição de corpos ajustados às noções de “mulher-feminina” e “homem-masculino”. Sendo assim, quero afirmar que o questionamento de visões hegemônicas quanto ao caráter naturalizado das clivagens de gênero, bem como da heterossexualidade como a ordem dominante do desejo, passa também pela reconfiguração das relações que temos com as materialidades que nos rodeiam.
O estudo apresentado neste artigo é resultante de uma pesquisa de mestrado que versa sobre ações afirmativas relacionadas ao empoderamento de mulheres negras decorrente da articulação entre a assunção dos cabelos crespos e a moda promovida pela Geração Tombamento. A pesquisa está centrada no evento Afro Chic de Curitiba, que promove oficinas de tran- ças e turbantes como formas de ressignificação do corpo negro. Percebemos esse evento como uma das estratégias da Geração Tombamento, movimento cultural que utiliza a moda e a estética como ferramentas políticas para desconstrução de estereótipos de raça e de gênero, principalmente os construídos pela ideologia de branqueamento no início do século XX.
A partir das imbricações entre os discursos sobre a domesticidade e os modelos de identidade de gênero veiculados pela revista Casa & Jardim, procuro discutir a participação das representações na constituição das subjetividades humanas. Entendidas como práticas discursivas, as representações influenciam por meio do estabelecimento de normas, padrões e valores que medeiam a compreensão do mundo e as condutas na vida social. Logo, as representações de feminilidades privilegiadas em Casa & Jardim, longe de significarem o reflexo de uma suposta "natureza feminina", podem ser entendidas como tipos de subjetividades prescritas para suas leitoras.
Neste artigo tomamos como objeto de estudo a CASACOR ParanáÒ, mostra de design, arquitetura e paisagismo que ocorre anualmente em Curitiba desde 1994. Analisamos fotografias e textos de apresentação de seis ambientes, expostos entre 1994 e 2018, projetados para o uso compartilhado por casais e por crianças. Procuramos reforçar que o design constitui, em sua prática, scripts de gênero que implicam em prescrições e proscrições que direcionam os usos dos sistemas projetados. Argumentamos ainda que as materialidades resultantes dos processos de design atuam como próteses que produzem sujeitos marcados pelo gênero. A partir desasas premissas, nossas análises evidenciam que as estratégias de individualização e diferenciação aplicadas a ambientes expostos na mostra são consonantes com uma perspectiva normativa das relações de gênero, articulada a modelos de casa e de família que remontam a ideais burgueses novecentistas.
| VOLUME 12 | NÚMERO 27 | SETEMBRO-DEZEMBRO 2019 https://dobras.emnuvens.com.br/dobras | e-ISSN 2358-0003 artigo ] Maureen Schaefer França | Marinês Ribeiro dos Santos | VOLUME 12 | NÚMERO 27 | SETEMBRO-DEZEMBRO 2019 https://dobras.emnuvens.com.br/dobras | e-ISSN 2358-0003 artigo ] Maureen Schaefer França | Marinês Ribeiro dos Santos [abstract] In the 1970s, connections between the counterculture and the feminist and gay movements resulted in tensions in traditional models of femininity and masculinity. Such behavioral changes reverberated both in the costumes of pop culture artists and everyday garments. Using images of an editorial published in 1973 by Pop, the first magazine aimed at young people in Brazil, this paper discusses from a gender perspective how the use of fashion reiterated and regulated, but also questioned and widened the limits for body-building. To this end, the discussion, which dialogues with other publications of the referred time, is based above all on the articulation between the areas of Gender Studies and Fashion History. We understand that fashion is not neutral, but a cultural practice, being produced according to particular worldviews which may reinforce or contest social inequalities. Our analysis indicates that the fashion conveyed by Pop worked to some extent as a material strategy of tensioning social conservatism, by refuting normative gender patterns and producing more libertarian models of femininity and masculinity.
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