A questão da avaliação subjetiva de variantes se assenta teoricamente no levantamento de crenças e atitudes a respeito de algum fenômeno variável próprio de línguas ou variedades dialetais em termos de atribuição de valores de prestígio e de estigma. Nesse âmbito, um fenômeno particularmente variável na variedade acriana de Rio Branco é o uso das formas de referência ao interlocutor. Em razão disso, o principal objetivo deste artigo é o de aplicar testes de avaliação de atitudes e crenças aos falantes dessa comunidade de fala para avaliar se há valores sociais de estigma e prestígio relacionado aos pronomes tu e você. Os resultados mostram que (i), por um lado, os dados obtidos com base na dimensão do poder apontaram para a existência de um valor de prestígio atribuído ao pronome você, que se origina, de modo geral, dos julgadores de grau superior de escolaridade; (ii) por outro lado, os dados analisados com base na dimensão de solidariedade apontaram para uma aceitação maior de todos os grupos de avaliadores por tu.
ResumoO objetivo deste trabalho é apresentar um estudo em tempo aparente da variação dos pronomes nós e a gente, na fala da comunidade rio-branquense no Acre, seguindo os pressupostos teóricos e metodológicos da teoria da variação e mudança linguística. O córpus foi constituído por 40 gravações, de fala natural, realizadas nos anos de 2011 e 2012. Para a seleção dos informantes, consideramos variáveis sociais como sexo, escolaridade e idade. A variável dependente, alternância entre nós e a gente, circunscrita à posição de sujeito, objeto e complemento, tem como fatores condicionadores de natureza interna a natureza da referência e a concordância verbal. A análise dos dados permitiu constatar que o sintagma nominal a gente parece já estar incorporado à gramática da comunidade rio-branquense, embora ainda esteja em concorrência com a variante nós.Palavras-chave: sociolinguística; variação; pronomes nós e a gente. The pronouns nós [we] and a gente [the people] in the Portuguese variety spoken in Rio BrancoAbstract This paper has as objective to present a study in an apparent time of the variation between the pronouns nós [we] e a gente [the people], in the speech community of Rio Branco, in Acre State, following the theoretical and methodological assumptions of the language variation theory and change model. The corpus is constituted by 40 texts of natural speech, recorded in 2011 and 2012. The informants selection was processed on the basis of the social variables, such as gender, educational level and age; the dependent variable, the alternation between nós [we] and a gente [the people], circumscribed to the position of subject, object and complement, has as internal nature conditioners factors the nature of reference and verbal agreement. The analysis of data suggests that the nominal phrase a gente [the people] is already embodied into the grammar of the speech community, albeit still in competition with the variant nós [we].
Uma variável que perpassa a maioria das variedades do português brasileiro é a alternância entre os pronomes ‘tu’ e ‘você’ para referir-se ao interlocutor, fenômeno que vem sendo abordado por diferentes pesquisadores variacionistas, entre os quais se destacam Menon (2000), Corrêa (2002), Lorengian-Penkal (2004), Lucca (2005), Dias (2007), Lopes (2007) e Franceschini (2011). O objetivo deste trabalho é enfocar essa alternância na variedade rio-branquense, com a finalidade específica de examinar se o fenômeno investigado é um caso real de variação em que a seleção de uma das variantes pode representar uma marca de identidade social em virtude da possível atribuição de prestígio ou estigma ou se, alternativamente, trata-se de um caso real de escolha funcional em que as duas formas se alternam para produzir diferentes efeitos discursivos em termos de determinação da referência à segunda pessoa. A investigação das formas ‘tu’ e ‘você’ tem por base o Banco de Dados do Projeto Estudo da Fala Urbana de Rio Branco, composto por relatos de experiência pessoal, coletados e transcritos pelo Grupo de Pesquisa Ecossistema Linguístico do Acre. Os resultados apontam para uma expressiva predominância de ‘você’ na referência indeterminada. Quando se consideram os dados da referência determinada, a preferência por ‘você’ está reservada predominantemente ao uso de informantes com escolarização superior, e a preferência por ‘tu’, ao uso de informantes com ensino fundamental e médio. Essa distribuição sinaliza claramente a atribuição de um valor de prestígio ao uso do pronome ‘você’. Identificaram-se alguns casos de enunciados contendo discursos reportados, um contexto potencialmente acessível a diferentes relações de papel entre os interlocutores envolvidos. Nesse contexto, escolher ‘tu’ ou ‘você’ é motivado pela situação de interação mediante o uso de ‘você’ para indicar valores de distância e formalidade e o uso de tu para indicar valores de familiaridade e informalidade.
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