Lins do Rego tem o Fogo morto, esse livro é de uma poesia... É tripartido, eu fiz tripartido, são três histórias, eu copiei esse livro, roubei. Só que botei na versão urbana. Recomendo aqui assim: antes de ler o Cidade de Deus, leia Fogo morto. (Paulo lins aPud amaral, 2003, P. 35) Lua Nova, São Paulo, 91: 2014 SENTIDOS DA CRISE: LITERATURA E PROCESSOS SOCIAIS EM FOGO MORTO E CIDADE DE DEUS MARIANA MIGGIOLARO CHAGURI MÁRIO AUGUSTO MEDEIROS DA SILVA Resumo: Este artigo aproxima os romances Fogo morto (de 1943), de José Lins do Rego, e Cidade de Deus (de 1997), de Paulo Lins, explorando a hipótese de que, ao figurarem aspectos de processos de crise social, as narrativas acionem a violência como mediação privilegiada das relações entre os indivíduos e destes com o Estado. Nesses termos, os conflitos em torno da autoridade e do poder estabelecem os nexos entre forma literária e processo social, possibilitando uma análise dos limites à efetivação dos direitos sociais e, consequentemente, da afirmação da igualdade como princípio regulador da vida republicana brasileira. Palavras-chave: Abstract: This paper approaches the novels Fogo morto (1943) by José Lins do Rego and Cidade de Deus (1997): a novel by Paulo Lins to explore the hypothesis that the narratives deals with aspects of processes of social crisis and, by doing so, trigger violence as privileged mediation of relations between these individuals and the state. Accordingly, the conflicts over authority and power establish the connections between literary form and social process, enabling to analyze the boundaries to the effectiveness of social rights and, consequently, the statement of equality as a regulatory principle of the Brazilian republican life.