Este estudo descritivo, de natureza qualitativa, visou reconhecer atitudes observadas no comportamento de pais/mães cuidadores de crianças portadoras de anemia falciforme, doença crônica relevante no continente africano, identificar aspectos relacionados à dinâmica familiar, caracterizar vivências depressivas, ansiógenas e de estresse desse grupo, no Hospital Pediátrico David Bernardino, em Luanda, Angola. A população de estudo compreendeu 25 participantes-08 pais, na faixa etária de 25-50 anos, e 17 mães, com idades entre 25 e 50 anos. Para obtenção dos dados, entrevistas foram realizadas, seguindo um roteiro temático, acompanhadas de aplicação de testes para aquilatar depressão, ansiedade e estresse na população de estudo. Para isso, contou com aprovação do Comitê de Ética em pesquisa, da Faculdade de Saúde Pública-USP, autorização da direção do Hospital, e anuência dos participantes, de acordo com os termos do TCLE. Os conteúdos das entrevistas gravadas foram transcritos, organizados em quadros, e analisados segundo a técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. Os dados dos testes aplicados, também, são apresentados em quadros e analisados conforme a metodologia seguida. Achados revelaram que, praticamente todos os integrantes deste estudo apresentavam sintomas de depressão, ansiedade e estresse, em diferentes níveis, destacando-se o nível moderado, porém com presença de casos graves em todos eles. Este quadro foi compreendido como resultado de sofrimento vivenciado em todo o processo de adoecimento da criança, desde a descoberta de sintomas, a peregrinação por serviços de saúde para diagnóstico e tratamento especializados-em face da falta de qualificação de profissionais e de hospitais para atenção a portadores de anemia falciforme-e da persistência de crises, até a chegada ao único hospital de referência nacional. Em considerações finais, ressalta-se que vivências de pais/mães cuidadores de crianças portadoras de anemia falciforme devem ser consideradas em qualquer plano de enfrentamento do problema, uma vez que a doença de seus filhos interfere, diretamente, em sua vida cotidiana e de trabalho. Outra recomendação diz respeito à necessidade de promoção e ampliação da rede especializada, em nível nacional, para redução da demanda que se registra no único hospital pediátrico, em Luanda, ao de melhor qualificação de profissionais de saúde para sua abordagem.