Neste texto procuramos apresentar os resultados parciais de pesquisa de Mestrado, na qual nos debruçamos sobre as concepções de professores de ciências e de biologia da educação básica sobre o tripé sexo, gênero e sexualidade, sendo estes os componentes da matriz de inteligibilidade heterossexual. Especificamente debatemos as concepções prévias e reações das professoras participantes da pesquisa perante a existência de homens transgêneros que se relacionam afetivo-sexualmente com homens cisgêneros, constituindo-se assim casais lidos como gays. Para tal, apresentamos aos participantes uma HQ do desenhista estadunidense Bill Roundy, no qual ele, enquanto homem cis gay, tenta explicar como são seus relacionamentos com homens trans. Configura-se, pelo dito popular, que “homem com homem dá lobisomem”, então, como base nos estudos transviados (queer) e na pedagogia dos monstros, procuramos destrinchar o quanto um homem trans com um homem cis também se constitui um lobisomem/lobisbixa que pode embaralhar as categorias conceituais do ensino de ciências, assim como alguns pressupostos positivistas presentes no próprio campo de ciências da natureza, concluindo que a união citada causa sim um certo estranhamento, ao passo que, dependendo do recorte, pode também reafirmar alguns padrões cis-heteronormativos.
O presente estudo teve como objetivo identificar as concepções de sexualidade e de Educação em Sexualidade presentes no material do Currículo de São Paulo para o ensino de Ciências para o 8º ano, a partir da análise das orientações aos professores/professoras, das estratégias e dos conteúdos propostos. Trata-se de uma pesquisa documental cujo objeto de análise foi o volume 1 dos Cadernos do Professor e do Aluno de Ciências da 7ª série/8ºano do Ensino Fundamental. Para tal, utilizamos como referencial de análise as dimensões da sexualidade; identificamos se e como o material em estudo aborda as questões de gênero e discutimos limites e possibilidades da proposta, dentro de uma perspectiva emancipatória de Educação em Sexualidade. A análise evidenciou o predomínio da dimensão biológica nas situações de aprendizagem selecionadas, o que está de acordo com o esperado para um currículo de Ciências. No entanto, em diversos trechos, existem orientações para professores e atividades que abordam aspectos socioculturais e/ou psicológicos da sexualidade. A situação de aprendizagem sobre sexo seguro foi a que apresentou a maior quantidade de trechos que abordam aspectos socioculturais e psicológicos, ao evidenciar componentes individuais da vulnerabilidade. Por outro lado, a situação de aprendizagem que trata de gravidez na adolescência privilegia o aspecto informativo, deixando de lado os fatores psicológicos e socioculturais fundamentais para o fomento à reflexão. Observamos, também, que a abordagem de sexualidade é mais ampla nas orientações às(aos) docentes do que no material das(os) alunas(os). Mesmo com as limitações dos materiais estudados, é possível a prática de uma Educação em Sexualidade emancipatória, que fomente a criação de espaços de fala, de escuta e reflexão nas aulas, superando o aspecto informativo já há muito criticado. Para que isso ocorra, as formações inicial e continuada precisam sensibilizar docentes para a complexidade do tema e prepará-las(os) para a tarefa.
The Vale Sonhar Project was inserted in São Paulo´s state curriculum in 2008. Its activities were included in the first grade high school Biology´s program. This article aims to analyze this material´s contribution to the emancipatory practice in basic education from the realization of the educational kit´s workshops with a first grade high school class, during Biology classes. Then, limits were pointed out and changes were proposed as a way to overcome the difficulties encountered and to amplify the formative potential of this didactic action. The Vale Sonhar Project is an important curricular space for the subject; however it presents limitations such as the long time necessary for its execution which impacts on the decrease of the playful aspect and unfeasibility in a context of extensive curricula and few weekly Biology classes. The insertion of the psychological and sociocultural dimensions importance in the workshops was perceived, the absence of Sexually Transmitted Infections mention was questioned and notes were made for some issues in the proposed activities. In this sense, some changes in the workshops were suggested, besides the pregnancy prevention, in order to talk about topics that were not addressed in this material such as life project design, prevention of Sexually Transmitted Infections, diversity and sexual violence. Therefore it is hoped the provision of resources so that Biology teachers include in their classes The Vale Sonhar Project, working sex education with their students in a comprehensive way also achieving psychological and sociocultural aspects and an effective reflection of their life projects.ResumoO Projeto Vale Sonhar foi inserido no Currículo do Estado de São Paulo em 2008 e teve suas atividades incluídas no material didático de Biologia de primeiro ano do ensino médio. Este artigo tem como objetivo analisar a contribuição deste material para a prática de Educação Sexual Emancipatória na Educação Básica, a partir da realização das oficinas do kit educativo, com uma turma de 1º ano do Ensino Médio, durante as aulas de Biologia. Em seguida, pretende-se apontar limites e propor alterações como forma de superar as dificuldades encontradas e ampliar o potencial formativo desta ação didática. O Projeto Vale Sonhar constituía um importante espaço curricular destinado à temática, no entanto, apresenta limitações como o longo tempo necessário para sua execução, que impacta na diminuição do aspecto lúdico e inviabilidade em um contexto de currículos extensos e poucas aulas semanais de Biologia. Percebemos a importância da inserção das dimensões psicológicas e socioculturais nas oficinas, questionamos a ausência de menção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) e apontamos para alguns problemas nas atividades propostas. Neste sentido, sugerimos algumas alterações nas oficinas, buscando trabalhar, além da prevenção da gravidez, temas que não eram abordados neste material, como elaboração do projeto de vida, a prevenção de IST, diversidade e violência sexual. Esperamos, assim, oferecer recursos para que os docentes de Biologia incluam em suas aulas o Projeto Vale Sonhar, trabalhando a Educação Sexual com seus alunos de forma integral, contemplando também aspectos psicológicos e socioculturais e a reflexão sobre o projeto de vida.Palavras-chave: Material didático, Educação sexual, Gravidez na adolescência, Projeto de vida.Keywords: Educational Material, Sex education, Teen pregnancy, Life plan.ReferencesBARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. 1977, 223 p.BELO, M. A. V.; SILVA, J. P. Conhecimento, atitude e prática sobre métodos anticoncepcionais entre adolescentes gestantes. Revista de Saúde Pública, 38 (4), 479-486. 2004.BONFIM, C. Desnudando a educação sexual. Campinas: Papirus. 2012, 144 p.BRASIL. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rio de Janeiro: IBGE. 2013. 131p.BRASIL. Síntese de Indicadores Sociais: uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira – 2015. Rio de Janeiro: IBGE. 2015. 134p.BRASIL. Boletim Epidemiológico - Sífilis. Brasília: Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde. 2018a. 48p.BRASIL. Boletim Epidemiológico – HIV AIDS 2018. Brasília: Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde. 2018b. 72p.BRASIL. Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar. Rio de Janeiro: IBGE. 2016. 131p.CHALEM, E.; MITSUHIRO, S. S.; FERRI, C.P.; BARROS, M.C.M; GUINSBURG, R.; LARANJEIRA, R. Gravidez na adolescência: perfil sócio-demográfico e comportamental de uma população da periferia de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, 23 (1), 177-186. 2007. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2007000100019DIAS, A. C. G.; TEIXEIRA, M. A. P. Gravidez na Adolescência: um Olhar sobre um Fenômeno Complexo. Paideia, 20(45), 123-131. 2010. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-863X2010000100015 FIGUEIRÓ, M. N. D. Educação sexual: como ensinar no espaço da escola. Revista Linhas, 7 (1), 1-21. 2006.FIGUEIRÓ, M. N. D. Formação de educadores sexuais: adiar não é mais possível. 2. ed. Londrina: Eduel. 2014. 400p.FURLANI, J. Educação sexual na sala de aula: relações de gênero, orientação sexual e igualdade étnico-racial numa proposta de respeito às diferenças. Belo Horizonte: Autêntica Editora. 2011. 192p.GIORDANO, M. V.; GIORDANO, L. A. Contracepção na Adolescência. Adolescência & Saúde, 6 (4), 11-16. 2009.GREENBERG, J. S.; BRUESS, C. E.; OSWALT, S. B. Exploring the dimensions of human sexuality. 5. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning. 2014. 793p.KAPLAN. Vale Sonhar. (2016). Disponível em: <http://kaplan.org.br/institucional/sec/vale-sonhar>. Acesso em: 17 de outubro de 2019.LEÃO, A. M. C.; RIBEIRO, P. R. M.; BEDIN, R. C. Sexualidade e orientação sexual na escola em foco: algumas reflexões sobre a formação de professores. Linhas, 11(1), 36-52. 2010.MELO, S. M. M. Educação e Sexualidade: caderno pedagógico. 2.ed. Florianópolis: UDESC/CEAD/UAB. 2011.NASCIMENTO, I. P. Projeto de vida de adolescentes do ensino médio: um estudo psicossocial sobre suas representações. Imaginario,12 (12), 55-80. 2006.NUNES, C.; SILVA, E. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade. Campinas: Autores Associados. 2006. 144p.OPS; UNFPA; UNICEF. Acelerar el progreso hacia la reducción del embarazo en la adolescencia en América Latina y el Caribe. Informe de consulta técnica. (29-30 agosto 2016, Washington, D.C., EE. UU.). 2018. 56p.PRIOTTO, E. P. Dinâmicas de grupo para adolescentes. 7. ed. Petrópolis: Vozes. 2013. 312p.VALE SONHAR: Livro do professor. Instituto Kaplan. Vários autores; coordenação Maria Helena Brandão Vilela. São Paulo: Trilha Educacional, 2007.VIEIRA-ANTONIASSI, P.; MIRANDA, M. A. G. C. de. O professor de Biologia e o Projeto Vale Sonhar: limites e possibilidades em uma perspectiva emancipatória da educação sexual. Anais [do] III CONGRESSO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES e do XIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES: por uma revolução no campo da formação de professores. UNESP/Prograd, v. 3, p. 3942-3953, 2016.WEREBE, M. J. G. Sexualidade, Política e Educação. Campinas: Autores Associados. 1998. 218p.YAZLLE, M. E. H. D. Gravidez na adolescência. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 28 (8), 443-445. 2006.e3801101
As pessoas trans estão expostas a diversas vulnerabilidades na sociedade. Este artigo objetiva conhecer as dificuldades de “aceitação” das pessoas trans na comunidade escolar, com base nos discursos docentes. Para tanto foram realizadas entrevistas com professores e gestores escolar, em uma escola que recebeu alunos trans. Os dados foram submetidos à análise de discurso. Os principais entraves para a inclusão de pessoas trans estão relacionados à genitalização de relações sociais por parte dos docentes e à falta de apoio familiar. O acolhimento é facilitado a partir da ação de uma equipe gestora engajada com a questão.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
customersupport@researchsolutions.com
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.